Início de outono nos trópicos. O equinócio do fim de semana do dia 20 marcou o início da estação no hemisfério Sul. Época de transição, quando características do verão em seu ocaso e do crepúsculo do inverno que se aproxima se misturam, o outono traz dias mais curtos até o limite do solstício de inverno, em junho, quando teremos a noite mais longa do ano.
A transição entre as estações do ano, que faz a atmosfera apresentar instabilidades entre extremos de frio e calor e de seca e umidade, pode ser usada como metáfora para descrever e fomentar a análise do conturbado período político e econômico pelo qual passamos no Brasil. Aliás, as questões da urgente pauta econômica parecem ter sido relegadas ao esquecimento no momento em que Governo e oposição travam uma batalha épica pelo poder.
O Brasil certamente avançou muito nas questões socioeconômicas nos últimos 15 anos, como a melhoria na distribuição da renda, aumento da expectativa de vida, emprego, etc., todavia, os anos de glória parecem se desmanchar diante de nossos olhos apreensivos, que perscrutam atônitos o desconhecido. Em meio aos extremismos das redes sociais, erigidos a partir de análises epiteliais, estamos diante de uma novidade anunciada pelo escritor italiano Umberto Eco, morto recentemente: o acesso às novas tecnologias da informação e da comunicação deu voz aos idiotas.
A crítica é pertinente para o Brasil de hoje, pois, em vez de debates embasados e propostas para a saída da crise, o que se vê (e se lê) é a apologia ao ódio e à intolerância. Não se trata aqui de defender ou atacar quem quer que seja, até porque as investigações das operações em curso estão revelando a banda podre tanto da situação quanto da oposição. Nosso objetivo neste espaço é chamar a atenção do leitor para a necessidade da busca de soluções para o impasse e a incerteza que nosso país e nós, povo brasileiro, vivemos hodierno. Elucubrações pseudofilosóficas e discursos falaciosos, tão caros à classe política brasileira, não nos levarão à superação da crise e ao indefectível recomeço de que tanto precisamos.
A retomada do crescimento com a garantia dos direitos dos trabalhadores, com sustentabilidade ambiental, não é um antagonismo utópico. Vontade política e exercício da democracia, com a fiscalização e a cobrança de medidas concretas, são caminhos possíveis para salvar o que resta de um país devastado pela corrupção e pela inoperância de políticos que parecem legislar somente em causa própria. Se o outono é um período de transição astronômica, que seja também política.
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