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Heróis ou anônimos?

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Denise Polato

Farmacêutica

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“Mais um oportunista a se beneficiar dos inúmeros amigos e favores de uma organização criminosa que tomou posse do Estado brasileiro”

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Acompanhando as notícias e exaustivas imagens sobre a prisão de Eike Batista pela televisão, lembrei-me dos versos de Cazuza: “Meus heróis morreram de overdose”. Acho que ele se referia a Janis Joplin, Jimmy Hendrix, entre outros, o que me levou a questionar: quem são os heróis de hoje? Ou, ainda, quem quer tirar uma selfie com o Eike? Afinal, o que ele é? Um BBB, uma “celeb”, um homem de sucesso, um empregador e cumpridor de suas obrigações? Não, ele é apenas mais um oportunista a se beneficiar dos inúmeros amigos e favores de uma organização criminosa que tomou posse do Estado brasileiro, e hoje nos coroa com seus “heróis” de cabeças raspadas.

Mas, mais do que este aspecto tacanho desta triste história, penso de maneira breve nos momentos apoteóticos que o sr. Eike nos proporcionou ao longo de sua trajetória, a começar, claro, pela famosa coleira usada por Luma de Oliveira, pelas bilionárias empresas OGX, OGPar e MMX, as entrevistas e palestras, a famosa e inesquecível Lamborghini na sala e, por fim, a coroação com sua entrevista no Roda Viva, da TV Cultura, e sua participação no Domingão do Faustão, cuja temática beirou o grotesco. Foi aplaudido e idolatrado pela mídia que via nele um verdadeiro Midas, um exemplo de dedicação, com forte tino empreendedor, homem de visão e, consequentemente, de sucesso.

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Esta breve reflexão me leva a pensar nos milhares de empresários brasileiros que se espelharam em Eike, que se questionaram, por inúmeras vezes, o que ele fazia para dar tudo tão certo, enquanto viam seus negócios afundarem em meio ao desastre econômico que afetou a grande maioria de empresas e empresários em todo o país. Afinal, por que tanto empenho, tanto trabalho, estudos e afinco não são suficientes para gerir um negócio? Quantos sapos engolidos, quantos empréstimos a juros exorbitantes são necessários, mas mesmo assim insuficientes, para manter as portas abertas? Quantos questionamentos foram feitos na tentativa de responder a uma simples pergunta: como o Eike conseguiu atravessar a crise ganhando dinheiro, faliu e renasceu das cinzas de maneira meteórica, e a grande maioria dos empresários brasileiros fechou suas portas?

Pois é, a resposta agora parece também simples: estes empresários não foram abençoados com uma “capacidade superior” de fazer dinheiro. Com a verdade exposta, vemos cair por terra um mito forjado, travestido de herói, mas que não passa de mais um exemplo do que nosso país se transformou.

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Creio que deveríamos reconhecer o mérito e o valor destes tantos empregadores, incansáveis, que acreditam em seus sonhos e lutam como verdadeiros guerreiros para se manterem vivos, sem “amigos” para lhes dar um empurrão, sem ninguém nas ruas querendo tirar uma selfie com eles. Heróis anônimos, mas, sim, verdadeiros heróis.

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