Dois anos foram necessários para a preparação do Sínodo dos Bispos dedicados à região pan-amazônica, dos quais resultou o instigante e desafiador Instrumentum Laboris, o instrumento de trabalho para os bispos, que em suas linhas dá voz às pessoas e aos povos da floresta e convida a uma “ecologia integral”. Infelizmente, o documento suscitou uma série de manifestações contrárias, por parte dos opositores do Pontífice. Acusações de heresia e erros que nos dizem mais sobre os acusadores do que do acusado, numa tradição que se estende entre aqueles que se pretendem autoridades de fala com ouvidos moucos!
Pelo contrário, o evento denota uma característica marcante deste pontificado: a própria sinodalidade! O Papa poderia ter publicado um documento sob sua própria autoridade. No entanto, seu método é aquele inaugurado pelo cardeal Joseph Cardijn: ver-julgar-agir. E, para ver mais claramente, julgar com mais justiça e agir de um modo mais decisivamente cristão, devemos ouvir e dialogar. É disso que se trata a sinodalidade!
Realizado em outubro, o Sínodo nos legou dois novos textos: o documento final e a renovação do Pacto das Catacumbas, na espera da publicação da exortação apostólica pós-sinodal, que Francisco prometeu para até o fim de 2019.
Sobre o documento final, o cardeal Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo, disse que não se pode lê-lo como um livro ou como um texto de um autor, por ter sido feito a muitas mãos. “Essa é a sua riqueza!” O tema central é a questão dos povos originários, indígenas, mas enquadra toda população, inclusive urbana. Trata também da crise ecológica e da urgência em defender a preservação, demonstrando que “a floresta de pé é melhor e dará muitos mais recursos para os países que as possuem e para o mundo que derrubada”. O outro tema refere-se ao modo como a Igreja pode realizar melhor a sua missão na Amazônia, que apontou para novos caminhos, entre os quais estão a ordenação de homens casados e o reconhecimento do trabalho das mulheres nas comunidades. Temas que ganharam mídia do que centralidade nas discussões sinodais, segundo o cardeal, mas que apontaram para alguns avanços, que o Papa deverá decidir e orientar.
Já no dia mundial das missões, em eucaristia presidida por d. Hummes, foi renovado o Pacto das Catacumbas, que foi assinado pelos 40 padres sinodais e também por leigos e até membros de outros credos que estiveram presentes à celebração, alcançando 200 assinaturas, incluindo 80 bispos. Dividido em 15 pontos, o pacto fala de aquecimento global, exaustão dos recursos naturais, defesa de territórios, acolhimento a migrantes, diminuição da produção de lixo, freio ao consumismo entre outros temas atuais. O novo acordo recebeu o nome de Pacto das Catacumbas pela Casa Comum. Durante a celebração, d. Hummes usava a estola que pertenceu ao cardeal brasileiro dom Helder Câmara e reafirmou a coragem e a humildade dos cristãos das catacumbas.
Se em 1965 o clamor dos pobres do mundo ecoava e chegava aos céus, hoje se junta a essas vozes o grito da Pachamama, para denunciar profeticamente que este modelo de organização da sociedade atual mundial contraria a essência da missão de Jesus Cristo, quando afirma: “Eu vim para que todos (inclusive a Mãe-Terra) tenham vida e a tenham em abundância”, afirmou Daniel Seidel, do Movimento Nacional de Fé e Política, presente e signatário do documento. O movimento macro ecumênico de espiritualidade libertadora realizou em Juiz de Fora um encontro, muito rico e com muita participação, para dialogar sobre esses textos e sua aplicação efetiva!