Longe de mim sugerir que isso, a que me refiro no título acima, esteja ocorrendo a você. Tampouco busco transmitir uma indireta a alguém em específico – e olha que não faltam alvos em potencial. Mas a intenção, estritamente, é oferecer algumas orientações, fundamentadas em literatura técnica, que permitam a você, leitora ou leitor, ser menos suscetível ao canto da sereia político e/ou mercadológico contemporâneo, tão cheio de seduções e estratagemas. Vamos lá.
Você diz “vamos às compras” – aliás, título de obra seminal de antropologia do consumo de Paco Underhill, livro bom mesmo de ler – e chega ao supermercado. A quantidade de opções é tão grande, e o tempo tão escasso, que sua decisão, como a de quase todo mundo, se subordina ao imperativo da aceleração: melhor agilizar. Nem se dá conta, mas várias das etiquetas de preços em destaque (e nem precisam ser os conhecidos “splashes”, em formato de explosão) não são promocionais. Ponderar sobre cada item é custoso, e a indústria do merchandising sabe isso. Cuidado.
Outra dica – esta válida tanto no universo comercial quanto no político – é resistir à tentação do que se habituou, no senso comum, denominar “efeito manada”. Você sabe do que estou falando: aquele impulso desesperado, ainda que frequentemente imperceptível, de ir “no embalo” da maioria. Em “A Cabeça do Eleitor”, o tão respeitado quanto controverso Alberto Carlos de Almeida faz até algumas ressalvas à ideia de que os votantes preferem candidatos mais bem posicionados em pesquisas. Mas não falta literatura no universo da psicologia social – e aí indico tudo que Robert Cialdini escreveu e ainda escreve – demonstrando nossa suscetibilidade aos grupos. Aliás, isso também vale para criação de filhos: há bastantes e documentadas evidências de que os amigos não raro influenciam de forma mais contundente os pequenos do que os próprios pais. Melhor ficar atenta(o) a eles.
A influência está por toda parte, explorando vulnerabilidades em todos nós, mesmo entre os mais atentos, estudiosos e os próprios influenciadores. Aqui mesmo houve o recurso a algumas técnicas, como o uso do “você”, interpelando a(o) leitora(o) ao apelar para o uso de um dos vocábulos que, demonstram estudos, mais facilmente identificamos em textos de quaisquer extensões ao longo da vida, perdendo só para nosso próprio nome. Você devia abrir seus olhos. Há bastante gente tentando influenciar por aí, e esse pessoal sabe o que faz.