O mito de que a cidade de Juiz de Fora é vanguarda em suas mais diversas áreas (econômica, cultural e política) foi criado nas primeiras décadas do século XX. Nesta época, foi atribuída à cidade de Juiz de Fora os cognomes de “Manchester Mineira” e “Atenas Mineira”, devido as suas fábricas têxteis, ao teatro e às produções literárias.
Esse mito que insiste em persistir em nossos dias dificulta perceber a atual realidade social de Juiz de Fora. Nossa economia não consegue mais diversificar e a cidade se contenta em ser uma prestadora de serviços – é lastimável o que fazem com o potencial turístico! Nossa política, não muito diferente de outras cidades de mesmo porte, se comporta como provinciana, sem imaginação e sem criatividade, além de sua incrível dificuldade em lidar com os novos desafios e com a diversidade. No que se refere à cultura, esta então, parece-me algo cada vez mais longínquo do que se pode conceber como vanguarda.
Um dos patrimônios históricos mais importantes da cidade, a Fundação Museu Mariano Procópio, se encontra com uma única galeria aberta. Só isso já era para ser motivo de vergonha por parte de nossos políticos e de indignação da população. O Cine-Theatro Central é um espaço elitista, pouco aberto às mais diversas produções e aos mais diversos públicos, e, quando há algum espetáculo, é bom preparar o bolso. Já o Teatro Paschoal Carlos Magno encarna bem o espírito brasileiro de país do futuro, já que ele é o teatro do futuro.
Ainda poderíamos inquirir o que aconteceu com os acervos do Museu da Cidade (inaugurado em 1983), que funcionava onde hoje é o JF Informação e possuía peças raras sobre a cidade. Qual foi o destino do Museu do Bonde, que ficava onde hoje é a atual unidade da Cesama no Bairro São Mateus? E, por fim, cadê o acervo da Casa Silva Mello, uma das personalidades mais influentes da cidade no século XX? Nem procuro responder a essas perguntas, mas seria um bom material para os repórteres do Jornal Tribuna de Minas investigarem e, quem sabe, resgatarem e colocarem à disposição de nossa população parte da memória perdida.
Se Juiz de Fora foi vanguarda um dia, hoje não é mais. É preciso aceitar essa realidade para superar desafios e avançar. Se, de um lado, aqueles que pela função (autoridades políticas) deveriam fiscalizar, propor e executar políticas públicas não conseguem ter a sensibilidade e a inteligência necessária, por outro, é preciso que a população valorize mais suas memórias, seu patrimônio histórico e não permita que a cultura continue sendo tratada como artigo de perfumaria.
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