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Epidemiologia cognitiva

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A pesquisa epidemiológica se ocupa em conhecer as patologias que mais acometem a população. As taxas de incidência e prevalência das variadas doenças de alto risco revelam fatores responsáveis tanto por seu contágio quanto por sua dispersão na população, sendo alguns destes comportamentais, como, por exemplo, na pandemia do coronavírus.

Em epidemiologia e psicologia da saúde, uma variedade de atributos comportamentais tem sido usada com o propósito de especificar aspectos particulares de grupos que constituem risco. Por exemplo, traços de personalidade, como correlatos de resultados de saúde, para além das diferenças cognitivas, têm sido as variáveis independentes mais comumente empregadas. Por sua vez, em estudos de saúde, escores dos testes cognitivos são considerados, mais frequentemente, como resultados do que como antecedentes. Neste caso, a significância científica da inteligência geral, por exemplo, é subestimada em epidemiologia, e, consequentemente, seu potencial, no contexto de políticas públicas, não tem sido apropriadamente apreciado. Verifica-se, portanto, que, na maioria das vezes, isso se deve ao fato de, numa abordagem psicométrica, a avaliação intelectual focalizar os indivíduos como distintos de suas populações, ou seja, num processo inverso ao da abordagem epidemiológica, que focaliza os indivíduos imersos no contexto populacional.

A partir deste novo milênio, baixos escores de inteligência têm surgido com maior frequência nos registros epidemiológicos, ou seja, como um fator de risco para a mortalidade em geral e, possivelmente, para os resultados de algumas doenças específicas, incluindo doenças cardíacas coronarianas. Este novo campo tem sido denominado de epidemiologia cognitiva, em que as diferenças cognitivas surgem mais como antecedentes do que como resultados. Epidemiologia cognitiva significa estudo que utiliza escores de testes cognitivos como fatores de riscos, tanto para a saúde humana quanto para a análise de resultados de doenças, incluindo mortalidade. Cientificamente, há possibilidade, teórica e experimental, de se introduzir diferenças em inteligência como um dos possíveis correlatos de mortalidade, assim como de se compreender a epidemiologia das doenças crônicas através de tal viés. Tal introdução possibilitaria, em especial, analisar o papel das diferenças cognitivas em importantes resultados sociais e de saúde.

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Há poucas tarefas tão importantes para os profissionais de saúde quanto aquela de descobrir, e entender, os fatores psicológicos que influenciam o quanto e o quão saudavelmente as pessoas vivem. Novo entre estes fatores está a inteligência psicométrica, mensurada por meio de testes do tipo QI. Por que há uma associação significativa entre baixos escores de QI e mortes precoces? Uma das respostas prováveis supõe que, similarmente à complexidade no emprego, a manutenção da saúde, a proteção contra doenças crônicas e acidentes, bem como a adesão aos diferentes tratamentos e dietas, são construídas ao longo da vida. A forte associação entre habilidade cognitiva e conhecimento em saúde suporta esta associação.

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