Nas voltas da ciranda as mãos se tocam, o corpo fala, a mente cala, a vida transcende. É nessa toada que a Dança Circular vem inspirando e conquistando dançantes ao redor do mundo. Com pistas de sua prática desde os primórdios da humanidade, quando povos originários dançavam a vida, suas abundâncias, dores e morte, ou na Grécia antiga, onde fazia parte de treinamento de guerreiros ao lado da filosofia e da música, a dança de roda, ao sabor da dialética social, ora foi sagrada, ora foi profana, sendo ampliada e recrudescida no transcorrer do tempo.
Mais recentemente, na década de 70, uma experiência transformadora de introspecção pela dança, vivenciada na pequena comunidade de Findhorn, na Escócia, tornou-se o alicerce de um movimento dançante que se espalhou pela Europa e pelo mundo ocidental, tendo como protagonista o bailarino alemão Bernhard Wosien, que encabeçou iniciativa de resgate de danças ancestrais, documentação, criação de novos ritmos e coreografias e, principalmente, de uma pedagogia da dança em círculo, com foco na inclusão. O movimento da Dança Circular ganhou força e memória.
Para muitas pessoas, entrar na roda pode parecer algo sem sentido; para outras, complicado demais, inalcançável. Mas dançarinos profissionais, que mergulharam em experiências profundas, por meio da linguagem do corpo, como os bailarinos e coreógrafos Bernhard Wosien (alemão), e Rudolf Von Laban (Húngaro), um dos responsáveis pelo surgimento da dança moderna, chamaram atenção para o fato de que que, para além da oralidade, o ser humano tem necessidade de expressar-se pela corporalidade, por meio da qual também pode trilhar um caminho de autoconhecimento e equilíbrio interior. “O movimento é a substância primeira da vida, é a matéria em evolução no tempo e no espaço, aumenta a compreensão do comportamento, enriquece a responsabilidade individual e a integração de personalidade”, defendia Laban.
Dança de roda é unidade, é simplicidade, é caminhar de mãos dadas, sem deixar ninguém para trás. É silêncio, é reflexão, é renascimento. É na roda, de mãos dadas, recebendo e dando apoio, que se sente a delicadeza da dança circular. E, no ambiente de serenidade, união e acolhida, pode-se inspirar a liberar seu corpo, a deixá-lo expressar-se sem comparações, sem julgamentos, apenas na leveza de ser.
Colocar o corpo em ritmo de paz, sincronia, equilíbrio é uma forma de conduzir também a mente e os sentimento a esse lugar, é o que prescreve a cultura indiana que orienta seus praticantes no sentido de que os movimentos do nosso externo, refletem no plano interno, ou seja, se queremos desacelerar a mente um bom caminho é desacelerar o corpo.
Associadas aos movimentos que proporcionam leveza e liberdade ao corpo, as letras das canções inspiram e transportam a mente para lugares de paz, equilíbrio e boas emoções: “Ciranda por ti, Ciranda por mim. Roda na ciranda que é pro não virar pro sim; Ciranda que vai, ô, Ciranda que vem; Roda na ciranda que é pro mal virar pro bem”, composição de Edu Krieger.
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