Um dos objetivos da sociologia e de outras disciplinas das ciências humanas é superar a doxa, isto é, o senso comum, a opinião.
Tratando-se de segurança pública, é perceptível que existe um esforço daqueles que trabalham na área (especificamente no Poder Executivo) em associar assassinatos a drogas e à estrutura do crime. Inclusive, há o uso do argumento sofista de que a efetividade do aparato repressivo está eficiente à medida que as prisões aumentam, o que mostra, na realidade, a dificuldade do Estado em lidar com os problemas sociais.
Pesquisas recentes, solicitadas pelo Conselho Nacional do Ministério Público (2012) e do Ministério da Justiça (2013), mostram que existe no Brasil uma cultura da violência, ou seja, há uma predisposição do brasileiro em resolver seus conflitos pelo uso da força. As pesquisas supracitadas apontam que são preponderantes assassinatos por motivos fúteis (vinganças pessoais, brigas de vizinho, violência doméstica, discussão no trânsito, etc.). Nesse sentido, outra doxa a ser criticada e combatida é a de que o uso da arma de fogo pelo cidadão aumentaria sua segurança. Pelo contrário; a arma de fogo na mão da população aumenta o risco de qualquer disputa ou conflito terminar em morte.
Perante as situações supracitadas, não resolverá o problema investir em repressão, na vigilância dos comportamentos e em leis penais mais duras. Se o objetivo é enfrentar de forma eficaz e efetiva a violência (especificamente homicídios), é necessário levar em consideração a mudança, a longo prazo, de uma cultura da violência para uma cultura da paz, a qual perpassa também por instituições democráticas mais fortalecidas e eficientes na prestação de seus serviços.