Nos próximos dias, o Brasil vai comemorar a declaração de sua independência política. Além do desfile cívico-militar e outros eventos oficiais, desde 1995, faz parte dessa comemoração o “Grito dos Excluídos”: a manifestação de caráter popular foi instituída pelas pastorais sociais ligadas à CNBB por ocasião da 2ª Semana Social Brasileira, para que a comemoração da Independência do Brasil expressasse também os anseios populares para um Brasil melhor. Desde então, em muitas cidades brasileiras, as classes trabalhadoras e os movimentos sociais saem à rua para recordar que ainda há muito a fazer para que o nosso povo desfrute seu direito a uma vida plena.
Desde o início, esse evento abriu-se à participação de movimentos sociais, sindicais e de outras entidades cristãs. A cada ano ele recebe um tema que proclama a reivindicação do ano e um lema que suscite reflexão. Neste 29º Grito, o tema é “Vida em primeiro lugar”, vindo no lema a pergunta: “Você tem fome e sede de quê?”. Seu propósito é lembrar as fomes e as sedes do nosso povo, para, com ele e para ele, buscar soluções que acabem com a exclusão de grande parte da população das benesses do mercado. Com relação a essa questão, as entidades participantes se mobilizam para que soluções efetivas venham a ser apresentadas na 6ª Semana Social Brasileira, que está em processo de preparação nas diferentes regiões do país.
São convocados pastorais de Igrejas cristãs, movimentos populares e pessoas solidárias a pobres e marginalizados para defender e garantir seus direitos. O Grito dos Excluídos de 2023 vem lembrar à sociedade que a verdadeira independência do país requer segurança hídrica e alimentar para toda a população. Seremos um país realmente independente quando os direitos fundamentais a “terra, teto, trabalho e comida” forem assegurados até ao mais pobre de nós.
Sabemos, porém, que nem todos os setores das Igrejas cristãs se comprometem com esse Grito em defesa de excluídos e excluídas. Embora Francisco, bispo de Roma e líder da Igreja católica, insista na necessidade de a Igreja colocar-se “em saída para as periferias geográficas e existenciais”, a fim de cuidar dos migrantes, dos pobres, dos excluídos e das populações vítimas da guerra, muitos católicos – inclusive padres e bispos – continuam presos aos templos e aos ambientes eclesiásticos. Agarram-se a uma religião voltada para o divino, como se Jesus não tivesse nos ensinado que Ele se encontra no menor de nossos irmãos. Esse é o desafio que o 29º Grito dos Excluídos faz a todo o Povo de Deus: sentir o chamado divino para defender quem não tem defesa e assim reafirmar o caráter profético da fé cristã.
Quando no dia 7 de setembro levantarmos o grito contra a fome e a sede, estaremos atualizando o ensinamento de Jesus: “Eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber” (Mt 25, 35).