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Para as crianças refugiadas

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Parece muito estranho dizer que uma criança é refugiada em qualquer parte desse planeta. Afinal, a quem pertence esse mundo? Criamos a ideia de fronteiras, delimitando territórios, para demonstrar uma força e um poder que são submetidos a um tempo histórico.

Nenhuma fronteira vence o tempo. E são as crianças de hoje que definirão a geopolítica de amanhã. Depois, é contraditório falar de criança refugiada, porque nenhuma criança deveria estar em situação de tanto risco, em fuga. Ao contrário, criança precisa de abrigo, de endereço no espaço e na gente.
Como não seriam ainda maiores o espanto, a rejeição, a ferida pela ideia de crianças refugiadas e enjauladas? Separadas, arrancadas de seus laços afetivos? Crianças prisioneiras políticas? Pode existir algo mais contraditório e repulsivo?

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Ao mesmo tempo, sabemos que, quando se prende uma criança, é a tentativa de se prender o novo, o revolucionário. O que se exibe é justamente a tentativa de se evitar uma nova ordem! Prender a mudança! Manter os limites, as fronteiras, a ordem, o controle, o poder.

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Nada poderia ser mais simbólico de nossos tempos do que essa cena realizada no horror do real: crianças refugiadas e enjauladas! Sozinhas, apartadas, apátrias, abandonadas ao próprio consolo.
Lembrei-me de um menino de 5 anos que cruzou o meu caminho numa tarde de trabalho. Eu estava prestando um determinado atendimento num órgão público. Ele brincava pela sala. De repente, bateu com a cabecinha na quina da janela. Percebi que ele havia se machucado. Meu movimento foi imediato de ir até ele para ampará-lo.

No entanto, pela distância em que estávamos, pela situação que ele já vivia, antes que eu pudesse alcançá-lo, percebi que ele mesmo já se consolava. Passava a mão na própria cabecinha e, chorando, dizia a si mesmo: “Você vai ficar bem, você vai ficar bem”.

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Ainda assim o peguei no colo. Ele me disse: “Tudo bem. Eu me cuido. Estou acostumado”.
Aquilo foi tão invertido, tão violento, que eu quis chorar junto. Experimentar sua solidão não me foi indiferente.
Também não consigo ver as fotos, os vídeos, as notícias, saber das crianças chamadas refugiadas ( e enjauladas) e não me deixar tocar pela dor da solidão delas e de suas famílias, das quais foram arrancadas.

Eu sou daquelas que aprendi a não soltar o abraço antes da criança. Sabe-se lá o quanto ela está precisando daquele instante de abrigo?!
Tenho respeito máximo pela revolução das crianças. Que é aquilo que aprendo com elas todos os dias… No frescor do olhar que elas têm, na invencionalidade, no desprendimento, na generosidade, na capacidade de resignação e elaboração, na potência de vida!

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Criança é quando a gente já foi melhor!
E criança não é refugiada em lugar nenhum do mundo. Criança é refúgio! É para onde podemos olhar e apostar em algo que há de vir novo e melhor!

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