Ícone do site Tribuna de Minas

Os sonhadores

PUBLICIDADE

E agora, Luís?

Eu acreditei. Levantei a bandeira, argumentei: a esquerda tinha que ter uma chance no poder, a esperança de um governo socialmente justo e democrático havia de vencer o medo; e venceu.

Depois de anos tentando convecer um amigo aqui, outro ali, me senti parte da vitória; uma estrela, enfim, iluminava anos de escuridão. Broches, camisas, papos longos, muitas vezes chatos, argumentações poderosas passadas de boca em boca. Construímos um herói. Ele vestiu sua capa, incorporou esse personagem. Ele ganhou o poder, nós lhe demos o poder. Poder, coitado, muito poder. Ele experimentou o gosto do céu, viu toda uma nação, um mundo, reverenciar-se à sua frente. Pobre coitado. Ele era apenas mais um humano, que havia sido carregado, em vida, ao reino dos deuses. Lá, não se permitem erros. Vivos erram, mortos viram lenda. Ingênuo, vivo, incorporou o papel de salvador da pátria, fez-se uma lenda, construiu uma bandeira manchada de sangue, de luta e colocou uma estrela. Ele é essa estrela, estrela solitária. Atingiu o ponto mais alto dos céus. Era adorado por todos. Humilde, inteligente, sensível, honesto, tudo aquilo com que sonhávamos. Tadinho! Ele é humano, ele erra, mas seu maior erro foi deixar que todos acreditassem que ele era um herói. Que ingenuidade. Um humano de carne e osso, ainda por cima vivo, um herói? Prepotente. Caiu lá do alto e se espatifou no meio dos mortais. Ai! Como deve ter doído. Como deve estar doendo.

PUBLICIDADE

Aqui, embaixo, nós somos cruéis. Não nos engane. Não se engane. Nós somos fáceis de se enganar. Estamos sempre à procura de alguém para nos salvar. Mas, se esse alguém erra, ele experimenta a ira. Fica sempre a impressão de que nós fomos enganados. Nós não nos enganamos. Nós fomos enganados! Pobre coitado, não há meia culpa. De herói a vilão em um mês. Do céu ao inferno. O inferno é ruim para todos, mas, para quem já experimentou o céu, é bem pior. E os outros, josés, genuínos, delúbios, não vão ao inferno? Sim, vão, mas lembrem-se: essa bandeira tem apenas uma estrela. Pobre estrela! Esses outros podem ser presos, sentir-se humilhados, mas o caso de nosso ex-herói é definitivamente diferente. Ele era o diferencial.

E agora, Bruno?

De volta à realidade. Parece que todos aqueles que apostaram nesse herói estão estarrecidos. Alguns preferem culpar outros, outros preferem culpar uns. Somos todos culpados. Acreditamos em Papai noel, duende e no Super-Homem. Super-Homem? Tadinho! A “criptonita” dele também é cheia de “verdinho”. Já eu estou vermelho. De vergonha, de revolta. Sonhei tanto com esse momento. Investi nesse ideal como se fosse parte dele. Lutei como se conhecesse, pessoalmente, todos. Confiei muito mais que um voto. Muito mais!

PUBLICIDADE

E agora, companheiros?

A esperança de que poderíamos mudar o mundo caiu junto com nosso herói. Os pessimistas venceram mais uma. Os otimistas, como sempre, estão otimistas. Os realistas estão chorando.

PUBLICIDADE

E agora, Brasil?

Prefiro pensar que se trata de um país novo, que precisa amadurecer, crescer e cair na real do que pensar que nada irá mudar em curto prazo. Precisaremos de tempo, e, pelo visto, muito tempo. Sou otimista, sou brasileiro e não desisto nunca.

Um brasileiro que acreditou durante muitos anos em Super-Homem.

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile