Enquanto as instâncias de poder discutem, mas não implementam, um projeto nacional de segurança pública, com os estados atuando em compartimentos estanques e, salvo as exceções, sem contato com os demais entes federados, o Mapa da Violência no país apresenta dados extremamente graves. O Brasil registrou 61.619 mortes violentas em 2016, o maior número de homicídios da história, de acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nessa segunda-feira (30). Pelos dados, sete pessoas foram assassinadas por hora no ano passado, aumento de 3,8% em relação a 2015.
A taxa de homicídios para cada cem mil habitantes ficou em 29,9 no país.
Se comparado com outras tragédias, o número de homicídios no país se sobressai, porque equivale ao de vítimas da bomba que atingiu Nagasaki, no Japão, no final da Segunda Guerra Mundial, e está bem além do de conflitos formais nas muitas guerras pelo mundo afora. Aqui, há uma guerra urbana diária, que não escolhe lado, não tem bandeiras nem qualquer viés ideológico ou de identidade.
A principal matriz é a combinação do tráfico de drogas com os enfrentamentos de gangues. Quase a totalidade das vítimas é homem (99,3%), jovem (81,8%), tem entre 12 e 29 anos, e é negra (76,2%).
As polícias tornaram-se mais letais, mas o número de policiais mortos também aumentou 17,5% em relação a 2015: 437 policiais civis e militares foram vítimas de homicídio em 2016. A maioria das vítimas também é negra: 56%, contra 43% de brancos; além disso, em 32,7% dos casos, elas têm de 40 a 49 anos. Dentro das proporções, Sergipe tornou-se o estado mais violento, com 64 homicídios a cada grupo de cem mil.
Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública são uma clara advertência ao Estado de que não há mais espaço para transigir. As políticas de segurança têm que sair do papel, pois não se fecham apenas na repressão. A prevenção continua sendo o melhor caminho, mas ela só se consolida com os investimentos em outras áreas, especialmente sociais, a fim de reverter problemas que estão na base, como falta de educação, de oportunidades e a desigualdade. No discurso, são várias as propostas, mas, quando se compra a execução, a falta de recursos é a palavra de ordem, indicando formalmente que a segurança não está entre as prioridades, especialmente da União.