A COP 28, a ser inaugurada nesta quinta-feira, em Dubai, começa com uma notícia alarmante, destacada na edição de ontem do jornal “O Globo”. Um estudo divulgação pela Organização das Nações Unidas (ONU), indica que pelo menos cinco por cento dos municípios do Rio de Janeiro e Santos estarão submersos por conta do aumento do nível do mar. E mais, até 2100, o nível das águas vai subir ao ponto de tornar essas e outras cidades, como Sydney, na Austrália, e Kingston, na Jamaica, parcialmente submersas.
De acordo com o estudo, elaborado em parceria da ONU com o Climate Impact Lab (CIL), que produz a plataforma Human Climate Horizons, também estão em risco as cidades de Guayaquil, no Equador; Barranquilla, na Colômbia; Contonou, no Benin; Kolkata, na Índia; Perth, na Austrália, e Newcastle, no mesmo país. É de se destacar que os Países Baixos já vivem tal situação, garantindo sua estrutura por meio de canais e diques que, certamente, precisarão de novos ações para enfrentar o ciclo de elevação do nível do mar, fruto, em boa parte, do derretimento das geleiras nos polos.
Tais constatações deveriam ser suficientes para sensibilizar os participantes da reunião em torno das mudanças climáticas. O efeito estufa já dá mostras pelo mundo afora com ondas de calor em algumas regiões, chuvas torrenciais e secas extremas em outras partes do planeta, tudo como parte inicial dos problemas que virão adiante.
No entanto, a própria escolha da sede do evento é marcada por um paradoxo. Os Emirados Árabes se preparam para aumentar a produção de petróleo num momento em que a pauta passa, necessariamente, pela redução dos combustíveis fósseis. O país é o oitavo maior produtor do mundo.
Os diversos fóruns climáticos têm chamado a atenção para o problema, ao qual se soma o desmatamento das florestas, a começar pela Amazônia, cuja repercussão no clima é um dado real. O Rio Negro, principal afluente do Solimões – que, a partir do encontro, vira Rio Amazonas – enfrenta uma inédita redução do seu leito a ponto de comprometer a vida das populações ribeirinhas. Não é de graça esse fenômeno.
Como destacam representantes da ONU, o mundo está próximo de um ponto de não retorno, mas a tomada de providências pode mitigar os danos previstos para o final do século e ainda permitir que os países se preparem estruturalmente para as inundações.
A questão é saber até que ponto os governos estão dispostos a mudar de postura e tomar providências para reduzir o efeito estufa. Há fortes interesses em jogo, mas o princípio maior deve ser a vida da população, que passa por um período de deterioração. A discussão ambiental que sobe aos palanques não tem sido a mesma implementada pelos governos. Como consequência, as medidas de proteção ao meio ambiente andam a passos de cágado enquanto a depredação cresce em proporções geométricas.
Trata-se de um contrassenso quando se constata que setores importantes ainda insistem em desconhecer o que virá pela frente, agindo sem qualquer compromisso com o futuro e com as próximas gerações. Essa cultura tem que mudar.