A noite de domingo marcou uma página importante na história do país, quando as urnas indicaram a eleição do deputado Jair Bolsonaro para a Presidência da República pelos próximos quatro anos. Polêmico, de posições fortes, fez três discursos sucessivos. No primeiro, repetiu mantras da campanha que dividiram a opinião pública; no segundo, lendo um texto, falou de suas metas e, no terceiro, pelas redes sociais, disse o que poderia ser anunciado também nos outros dois pronunciamentos: será o presidente de todos os brasileiros e terá a Constituição Federal como referência. Era a mensagem da pacificação que passou longe no período de campanha. A despeito da divisão nas urnas, o que é próprio de pleitos tão polarizados, a partir de agora, sua gestão não se volta para um só grupo. O país tem muitos desafios, e em todos os segmentos, que precisam ser enfrentados.
Com longa vivência no Congresso, ele sabe disso, mas vai precisar voltar a insistir na negociação e pacificar as ruas, a fim de superar os enfrentamentos, que muitos, mais por equívoco, insistem em manter. A democracia implica o confronto de ideias, mas também de respeito ao contrário. E aí a questão é mútua. A presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, em vez da bandeira branca, também postou uma dura nota que soou como um não reconhecimento da vontade popular. O PT será oposição, e faz isso muito bem, mas não pode, por seu lado, patrocinar o radicalismo.
Se os dois lados não tiverem a intenção de garantir o contraditório, sem violação de direitos conquistados, certamente todos perderão, pois será mantido no dia a dia o embate que dividiu famílias e separou amigos. As demandas devem ser discutidas com firmeza, mas com serenidade, a fim de evitar gestos de intolerância que podem ser próprios do momento, mas que precisam, necessariamente, ter um fim. Há fóruns adequados de discussão, mas todos – do mais complexo, que se situa nos parlamentos, aos mais simples, como seminários, reuniões e até mesmo nas ruas – devem ser feitos à sombra do bom senso e, sobretudo, da lei.
Feito o embate das urnas, também é hora de dar fim à demonização da política. Ela é o meio adequado de mudanças. O combate à corrupção e ao balcão de negócios que se instalou nas instâncias de poder pode e deve ser enfrentado também pela política e pela Justiça, sobretudo por não haver outro caminho. Pela força, a democracia perde.