O mundo político é um pedaço à parte do mundo real, pois nada muda na performance dos que dele fazem parte. Mesmo diante de forte reação das ruas, as tentativas para ações pouco republicanas continuam em curso. Há cerca de duas semanas, tentou-se anistiar os envolvidos no caixa dois. Por pressão das ruas, os deputados recuaram, mas não foi por muito tempo. Na calada da noite, entrou em pauta o projeto que altera o programa de repatriação de recursos de brasileiros no exterior. O relator, Alexandre Baldy (PTN-GO), incluiu, numa versão preliminar, uma medida que permitia que condenados por crimes, como lavagem de dinheiro, aderissem ao programa de repatriação. A ideia só não foi adiante porque alguém de bom senso avisou que não daria certo. O próprio deputado admitiu que alguém lhe cantou a emenda, pois ele, pessoalmente, era contra.
Os políticos não aprendem nunca, sem perceber que os tempos mudaram e que o controle externo é outro. Hoje, com as redes sociais e com a necessidade de visibilidade das articulações nas instâncias legislativas, projetos forjados na madrugada tendem ao fracasso. O presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, com mais tempo de estrada, advertiu que, em qualquer projeto desse porte que não obtiver consenso, o melhor é não mexer.
A despeito da representatividade, colhida nas urnas com o voto, que é uma procuração dada pelo eleitor, as instâncias de poder insistem em tocar a vida como se nada estivesse acontecendo. Desconhecem até os efeitos da anomia política que ora se explicita nas campanhas eleitorais, com mobilizações mínimas a poucos dias de um pleito municipal. O povo tem optado por ir às ruas cobrar mudanças em vez de apostar nos seus representantes. É um preocupante sinal, mas quem deveria ser avisado já foi, não valendo, depois, o discurso em torno do desprestígio do mandato, quando eles próprios – os políticos – não fazem por onde para virar o jogo. Ao contrário, testam a opinião pública com frequência, reforçando posturas radicais que acabam não levando a lugar algum.