O Governo trabalha com estimativa positiva na votação do pedido de autorização para prosseguir, no Supremo Tribunal Federal, denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer. Marcada para o dia 2 de agosto, a votação tende a ser favorável ao Planalto, não apenas pelas projeções oficiais, mas pelas contas dos próprios parlamentares. O jogo pesado sobre partidos, com a concessão de benesses de toda ordem, deverá produzir resultados, mesmo se sabendo do custo que estará em jogo. Os defensores do afastamento do presidente têm a seu desfavor um problema: quem ficará no seu lugar; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que no início andou flertando com a possibilidade de ser ele o nome, refluiu suas ações, deixando os seus parceiros sem discurso. Ele mesmo, na última quinta-feira, admitiu que a denúncia não avança.
As consequências entram na agenda da política ainda esta semana, pois, ao mesmo tempo em que mantém promessas para a sua base, o Governo anuncia novo corte de gastos para manter o déficit nas contas públicas dentro da meta para o ano, de R$ 139 bilhões. Para tanto, irá bloquear um terço dos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, além de R$ 640 bilhões em emendas parlamentares. E é nessa parte que surge a questão: como garantir apoio sem atender aos pleitos desmedidos dos políticos que dão sustentação ao Governo? Nesse jogo, a conta não fecha.
Com a popularidade na altura do rodapé, o presidente não pode, sequer, buscar nas ruas o apoio de que precisa para ir adiante. Está refém dos políticos, que não medem consequências de seus pleitos, principalmente em ano pré-eleitoral. A meta é garantir repasses para suas áreas de influência já de olho nas urnas de outubro de 2018. E, quando fazem essa matemática, certamente alguém estará perdendo, pois não dá para fazer mágica. Para se manter no cargo, o chefe do Governo irá pagar um alto preço, mesmo sustentando o discurso de quem pretende fazer história como autor de mudanças fundamentais para o país, como Itamar, na criação do Real. Só que os personagens e o cenário são totalmente diferentes.