Os números do Ibope/CNI divulgados na última quarta-feira são emblemáticos: 33% dos entrevistados disseram que não votariam em nenhum dos candidatos que se apresentam para a Presidência da República. Pode não ser muito, mas esse número – sem a presença do ex-presidente Lula – supera todos os demais pretendentes, num claro sinal das ruas sobre o que ora está sendo apresentado.
É fato que a campanha ainda não começou, e os políticos estão falando mais para dentro do que para fora, isto é, seus discursos são voltados para os partidos e para a formação de alianças. O diálogo com as ruas ainda é precário, salvo em questões básicas que já são rotina no noticiário. Todos têm preocupação com a saúde, apresentam metas para a Educação e garantem amplo combate à corrupção. Mas o eleitor quer mais do que isso.
O fato é que algumas demandas obrigatórias entram no campo das virtudes. Combater a corrupção não é parte de programa de governo. É questão de Estado, que precisa defender a sociedade daqueles que misturam público com privado, achando que o patrimonialismo é uma causa comum. O que o eleitor exige dos pré-candidatos é a apresentação de propostas claras em torno de um projeto de país.
Faltando pouco mais de um mês para as convenções, o jogo é raso, mas já é hora de as cartas começarem a ser colocadas à mesa, a fim de mobilizar, principalmente, os 33% que estão dispostos a dizer não a qualquer uma das propostas, sobretudo porque ficar à margem do processo é vantajoso exatamente para aqueles que não têm propostas, que levam para o palanque apenas o discurso demagógico de salvador da pátria.
O protesto da omissão, em vez de ser uma advertência aos políticos, torna-se um risco, pois o que não falta em campanha é o tradicional vendedor de facilidades, capaz de convencer os menos atentos, que entram nesse processo certos de que estão agindo da melhor forma.