Na última segunda-feira, o Governo brasileiro anunciou o resultado de uma pesquisa do Instituto Fome Zero, encomendada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, segundo a qual o número de brasileiros que passam fome caiu de 33 milhões em 2022 para 20 milhões em 2023. A projeção foi feita a partir do cruzamento de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD).
Os números são importantes por apontarem o resultado de ações para enfrentamento de um flagelo de níveis globais. Se no Brasil já há algo para comemorar, no mundo ainda há um longo caminho a ser percorrido, a despeito de a Organização das Nações Unidas ter estabelecido o ano de 2030 como derradeiro para acabar com a fome do mundo. Trata-se de uma meta ambiciosa ante um cenário em que 111 países enfrentam situação crônica pela falta de alimento.
A fome no mundo é fruto da ausência de políticas públicas e de outros fatores interligados, como mudanças climáticas, conflitos armados, deslocamentos populacionais, e, agora mais recente, da Covid-19 e das guerras que ainda estão em curso na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A própria ONU admite que, antes mesmo desses acontecimentos, o mundo já não caminhava certo para erradicar a fome e alcançar a meta de segurança alimentar até 2030. Os eventos em curso agravam ainda mais a situação.
Os manuais indicam uma série de medidas que precisam, antes de tudo, contar com o respaldo dos governos nacionais, por serem políticas públicas de relevância. A primeira delas são investimentos em agricultura sustentável, fortalecendo a agricultura local e melhorando a capacidade dos sistemas alimentares no enfrentamento às mudanças do clima.
Os processos estão conectados. Quando se discutem políticas ambientais também se fala de combate à fome. Só com projetos de tal magnitude será possível proteger as comunidades mais vulneráveis ao garantir-lhes a possibilidade de produção alimentar. E aí estabelece-se um novo vínculo entre segurança alimentar, saúde, educação e emprego.
O Brasil, por meio de políticas de combate à fome, tem know-how para discutir com os parceiros internacionais, uma vez que seu agronegócio também é referência global, sobretudo na adoção de tecnologias e inovação. Hoje é possível aumentar a produtividade agrícola de maneira sustentável, reduzindo perdas e desperdícios de alimentos.
É fato que ainda há muito a ser feito. O desperdício, por exemplo, ainda é uma realidade ante a falta de educação alimentar de uma expressiva parcela da população.
Erradicar a fome, como estabeleceu a ONU, mesmo ainda não se situando no campo do impossível, vai exigir esforços redobrados de governos e sociedade. A conscientização e a mobilização da população, aliadas à vontade política, são fundamentais para transformar o objetivo de erradicar a fome em uma realidade tangível.