Ainda não é possível aferir os danos da prisão do ex-ministro Antônio Palocci na campanha municipal, embora ele tenha sido um dos próceres do Partido dos Trabalhadores nos governos Lula e Dilma, mas já se sabe, de antemão, que surge mais uma evidência das relações entre público e privado que andaram na contramão nos últimos anos. Seria ingênuo acreditar que esse tipo de manobra foi inaugurado na gestão petista – o tempo dirá que há outros -, mas estes pagam a conta exatamente por contrariarem um discurso que perpassava todas as suas ações ao curso de sua história: o combate extremo à corrupção e o não pacto com o interesse privado quando este tinha viés pouco republicano.
As muitas operações, mas especialmente a Lava Jato, apontam para um caminho diferente do que está nos programas do PT e cuja deturpação levou à dissidência vários de seus fundadores. Hoje, quando se veem denúncias de entendimento para facilitar, especialmente, os negócios de empreiteiras, quem olha para trás não conhece o partido, pois não é o mesmo que seduziu a juventude a partir de 1979 e vendeu a esperança de uma nova política ao país.
Também seria ingênuo considerar que no poder o partido não mudou paradigmas, especialmente na área social. Milhares de pessoas foram retiradas da linha de pobreza, e outras tantas tiveram acesso a bens que beneficiavam só o andar de cima, e é aí, de novo, que ocorre a frustração. Não se esperava que uma legenda com tantas qualidades se envolvesse com o jogo raso da política para garantir um projeto de poder.
Antônio Palocci, pelo mesmo PT, tinha sido apeado do cargo por conta de suas ações fora dos padrões, mas nunca deixou de ser uma liderança a ser ouvida pelo seu estilo soft de lidar com problemas e com o setor produtivo. Ele, como muitos outros, engrossa a lista dos que frustraram aqueles que apostaram no sonho.