Na edição de domingo, a Tribuna mostrou os riscos que afetam especialmente a terceira idade, que se tornou alvo prioritário dos golpistas em razão de sua dificuldade no uso das ferramentas digitais, principalmente celular. É um dado real que, no entanto, não se esgota na faixa etária acima dos 60 anos. Ante a sofisticação dos golpistas, qualquer um está sujeito a golpes por causa da facilidade de acesso aos dados. Os autores dos delitos têm pleno conhecimento dos dados e, de posse de informações ditas privilegiadas, iniciam “negociações” que acabam em dano para as vítimas.
Mas esse não é limite das mazelas do mundo digital. Na segunda-feira, apresentou-se à polícia de São Paulo o quarto integrante de uma rede de jovens investigados por suspeitas de ameaçar e estuprar pelo menos duas menores de 18 anos que conheceram no Discord – aplicativo da internet utilizado especialmente por adolescente, para conversarem sobre games. A ocorrência registra estupros e outras violências cometidas pelos infratores que, em momento algum, mostraram algum tipo de arrependimento pelos seus atos.
Desta vez, não eram os idosos com mais de 60 anos que estavam no polo passivo da relação. Eram jovens que, em princípio, deveriam saber dos riscos de relações mal iniciadas nas redes digitais. As imagens que percorreram esse mesmo território foram chocantes, com violências de toda sorte que agora entram no âmbito da justiça para punição dos infratores.
Assim como os idosos, um expressivo contingente de jovens está na mira dos infratores em consequência do discurso que permeia as redes sociais. Quem está fora desse processo indaga como isso é possível. Seria pura ingenuidade dessas vítimas?
Um fator, porém, é real. Os dados estão por toda a parte, dando aos golpistas e criminosos de outros matizes informações que, em outros tempos, eram restritas. Hoje, não. Idosos, vítimas preferenciais de crimes envolvendo recursos financeiros, e jovens, de crimes especialmente de costumes, são presas fáceis por conta do discurso que desfila pelas redes sociais e por outros aplicativos.
A discussão a seguir passa, necessariamente, pelas medidas que devem ser adotadas para mitigar os danos. As jovens submetidas a todo tipo de violência são a face mais exposta do uso indevido, por desconhecimento, dos aplicativos e redes sociais. Ao olhar externo, são ingênuas. No dia a dia, porém, são personagens, como qualquer um, passivo das artimanhas dos novos tempos.
Quando se fala em regular as redes sociais, há um certo sentido que, no entanto, precisa ser mais bem discutido para não se misturar com censura ou veto à livre expressão. Muito do que ocorre já está capitulado na legislação penal, mas ela é insuficiente para deter as ações que fazem parte desses novos tempos.