A pandemia do coronavírus foi responsável pelo aumento exponencial da população em situação de rua pelo país afora – e até mesmo no exterior – bastando um simples olhar para se constatar tal cenário nas metrópoles. Um trabalho feito por mais de 50 estudantes dos diversos cursos da Universidade Federal de Juiz de Fora é a prova material dessa questão. A pesquisa, realizada na última semana de outubro de 2022, apontou que em Juiz de Fora, tal população passou de 384 para 806, um aumento de 110%.
Os pesquisadores não computaram os personagens que tiram seu sustento nas ruas, mas têm residência fixa, mas o levantamento foi emblemático em considerar que muitos desses atores ora em situação de rua, foram levados a ela pela própria crise. O desemprego foi um indutor, mas são muitos os fatores que contribuíram para tal desequilíbrio social deveras preocupante. O rompimento de laços familiares também provoca consequências, da mesma forma que o consumo de drogas. Há, pois, um passivo a ser enfrentado.
O cuidado é uma peça fundamental nesse processo, sobretudo por trazer junto a compreensão de que expressiva parcela dessa população não está voluntariamente nas ruas. Ela foi induzida pelos fatores citados e tantos outros que perpassam as relações humanas. Ao Estado cabe avaliar todos os cenários, a fim de mitigar essa tragédia urbana que se acentuou nos últimos anos.
Nesta edição, a Tribuna recolheu a posição da Prefeitura. A secretária municipal de Assistência Social, Malu Salim, destacou a importância do diagnóstico, que serve como referência para a implementação de novas políticas públicas e apontou que Juiz de Fora tem espaços próprios, como as Casas de Passagem, Casas 24 horas, Hotel, Núcleos de Populações em Situações de Vulnerabilidade e Saúde Mental na Atenção Básica (Nupops) e o auxílio moradia, mas se trata de uma questão complexa.
Entre as muitas ações em torno daqueles que estão nas ruas é fundamental, ainda, o trabalho – por sinal já feito – de triagem e recolhimento. E aí surgem demandas que precisam ser avaliadas pontualmente. Nem todos aceitam os abrigos e nada pode ser feito para mudar tal situação, por ser um direito de escolher onde ficar. Há os que aceitam, mas rejeitam regras, o que exige jogo de cintura, sobretudo dos responsáveis monitoramento diário das ruas da cidade, sobretudo no inverno, quando muitos acabam não suportam o rigor das baixas temperaturas.
A discussão social tem várias frentes e é um desafio de grande relevância para os administradores, já que não há uma causa única e nem uma solução acabada. A pandemia aguçou o problema e a retomada da economia pode ser um caminho de volta para muitos, mas ainda está distante a solução definitiva. Por isso, o município tem que manter políticas permanentes de acolhimento.
À população cabe o papel de compreender o que ora ocorre, a fim de evitar situações críticas, nas quais os moradores em situação de ruas são vítimas da violência urbana, num processo de higienização que tem adeptos em diversos estratos sociais.