O jornalista Apparício Torelly, mais conhecido como Barão de Itararé, entre suas muitas máximas, dizia que “de onde menos se espera é que não vem nada mesmo”. A frase nunca se encaixou tão bem quanto na discussão da reforma política. Depois de usar todo o seu poder para descartar o longo trabalho da comissão especial, não permitindo, sequer, que seu relatório fosse votado, o deputado Eduardo Cunha apostou no plenário e perdeu. A mudança que todos falaram, sobretudo nos pontos cruciais, não aconteceu.
O resultado não surpreendeu, pois não é de hoje que os partidos têm suas próprias reformas sem chegar ao consenso em torno de demandas relevantes, como modelo de eleição, entre outros. O PMDB queria o distritão, PT e PSDB, ineditamente juntos, apostavam no distrital misto, e os demais partidos, nem uma coisa, nem outra. Queriam que tudo continuasse como antes. Os puxadores de votos continuarão recheando o Congresso de políticos sem votos, a despeito de todas as críticas a esse modelo.
Como o Governo vive o inferno astral da economia e perdeu o poder de agenda no Parlamento, qualquer iniciativa teria dificuldades de quórum. Mesmo com o prestígio do vice-presidente Michel Temer e da força de Eduardo Cunha, a derrota do distritão, pelo qual seriam eleitos os mais votados, é a prova material da fragmentação do Congresso. Vão continuar prevalecendo interesses pessoais ou de grupos, como hoje, sem perspectiva de uma mudança substancial, como se esperava.