Não fosse a reação de uma professora, auxiliada por uma colega, o crime registrado na manhã dessa segunda-feira na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, teria proporções mais graves. Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados. A professora de ciências, Elisabete Tenreiro, de 71 anos, morreu horas depois num hospital. O autor, um adolescente de 13 anos, após ter sido contido, foi apreendido pela polícia e levado para uma delegacia especial.
De acordo com o Estúdio I, da Globonews, uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, ainda em fase de conclusão, contabilizou 23 registros de ataques com violência extrema em escolas no Brasil nos últimos 20 anos. Neste período, 24 estudantes morreram, além de quatro professores e dois profissionais de educação. São dados preocupantes, pois, como dizem os pesquisadores, “sabemos que vai acontecer de novo. Só não sabemos como”.
Tais tragédias são fruto de uma conjugação de fatores, mas um ponto é especial: o acesso às armas. O adolescente autor dos crimes estava em busca de arma de fogo. Se tivesse conseguido, a tragédia seria muito mais grave. Nos Estados Unidos, também ontem, uma adolescente entrou em uma escola em Nashville, Tennessee, e matou três crianças e três adultos com armas de fogo. Ela também morreu em confronto com a polícia. Foram, pois, sete mortos.
Os números do Brasil são bem mais modestos do que nos EUA, mas também são emblemáticos, exigindo ação dos órgãos oficiais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, admitiu a possibilidade de colocar um policial em cada escola, mas esse é só um dos pontos a serem combatidos. Os adolescentes carecem dBs e acompanhamento, sobretudo quando apresentam os primeiros sinais de algum tipo de comportamento fora do normal. O autor dos crimes tinha brigado com um colega na semana passada e não se conformou com a intervenção da professora, que não permitiu a continuidade do confronto. Ela tornou-se um alvo. O adversário só não entrou na lista porque faltou à aula dessa segunda-feira.
As velhas rixas, nas quais quatro ou cinco pessoas se enfrentavam, sobretudo na saída das escolas, tomaram outra formatação, sobretudo diante das redes sociais que ampliaram o espaço do ódio, com propagação das brigas, muitas delas com dia, hora e lugar marcados com antecedência, como nos velhos tempos do faroeste ou dos duelos entre ofendidos em defesa da honra.
Ante a possibilidade de novos eventos, as medidas preventivas são a saída mais adequada, sobretudo por se anteciparem ao problema. O que deve ser feito depende dos muitos fatores que levam a esse tipo de enfrentamento. A violência continua sendo um flagelo, ainda mais quando tem como vítimas e autores jovens cujas vidas correm o risco de serem interrompidas, ampliando o sentimento de insegurança que está se tornando comum, sobretudo nas metrópoles.