Convidado pelo colunista Ancelmo Gois, de “O Globo”, a fazer um relato de 2017 e as perspectivas para 2018, o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, preferiu falar mais do presente do que do futuro, ante as muitas incertezas que o cercam. De fato, 2018 será desafiador. Ao celebrar os 30 anos da Constituição de 1988, considerada como carta cidadã, o país terá demandas importantes não só no Judiciário, com sua extensa pauta de julgamentos, mas também na política, com as eleições de outubro, quando será eleito o sucessor do presidente Michel Temer, estando em jogo, ainda, o Congresso Nacional, os governos estaduais e suas respectivas assembleias legislativas. Como lazer, também é ano de Copa do Mundo, mas o foco estará na sucessão. O ministro enumera a continuidade da luta contra a corrupção como a principal pauta, pois as demais, aos trancos e barrancos, estão sendo superadas, como a crise na economia.
O ministro tem razão ao insistir no combate aos ilícitos praticados especialmente por agentes públicos, pois os danos são muitos, e os efeitos colaterais, graves. Mas é fundamental tratar o tema sob o viés da justiça, e não dos justiceiros, pois há sempre o risco de se comprometerem biografias de forma irreversível num tempo em que as redes sociais atuam sob o formato maniqueísta do nós e eles, como se o país fosse, de fato, dividido por dois lados que não se apresentam para o diálogo.
As mesmas redes sociais devem seguir como canal de inserção, pois é por meio delas que muitos personagens, apartados dos canais formais de comunicação, se fizeram presentes. Pela amplificação de temas, a agenda de 2017 foi marcada por questões como empoderamento, gênero, combate à corrupção, política sem políticos, entre outros, que devem permanecer no próximo ano. Mas é fundamental que os personagens da rede mundial estejam abertos às novas ideias. O país que venceu tantas demandas ainda tem muito a avançar, o que só será possível se houver bom senso e distensão. As eleições de outubro, em vez do enfrentamento irracional devem servir de espaço para um grande debate sobre o que se espera no futuro. Para isso, os próprios políticos devem ficar atentos ao discurso que levarão para os palanques.
Como nos nomes ainda estão no espaço das especulações, é provável que o leque de opções se amplie, mas, independentemente do número de candidatos, todos devem ter o projeto de Nação como estratégia principal, pois é por meio deles que será possível garantir, a despeito das diferenças, um olhar único para o futuro.