Na semana passada, um ônibus com uma delegação do Fortaleza foi alvo de um atentado após o jogo contra o Sport, em Recife. Seis jogadores precisaram ser levados ao hospital com ferimentos leves. Os autores, de acordo com as autoridades pernambucanas, já teriam sido identificados, mas nenhum deles tinha sido preso até essa segunda-feira.
Não foi um caso isolado. No dia 24 de fevereiro de 2022, há dois anos, o ônibus com a delegação do Bahia foi atingido por rojões e artefatos explosivos na chegada à Arena Fonte Nova, momentos antes de enfrentar o Sampaio Corrêa, pela Copa do Nordeste. O time baiano tinha sido rebaixado para a Série B. Os autores do ataque eram, pois, torcedores indignados do próprio clube.
As autoridades prometeram uma rápida investigação e punição aos envolvidos, após usar imagens de câmeras de segurança e ouvir testemunhas. A Polícia Civil identificou quatro homens envolvidos e todos fazem parte da torcida organizada Bamor. Até agora não houve qualquer condenação. Os suspeitos sequer foram intimados para sua defesa, indicando que o processo levará tempo para uma definição legal. O caso de Recife deve seguir a mesma trilha.
Registros de violência nos estádios não surpreendem. No último domingo, antes do Fla-Flu, pelo menos 70 pessoas foram detidas por portarem armas e disposição de enfrentamento. Foram liberados em seguida como se nada tivesse acontecido.
Situações como essas são caldo de cultura para naturalização da violência, especialmente fora dos estádios. As autoridades anunciam medidas que não saem do papel. Nos dois casos de ataques às delegações, já era para ter sido tomada alguma providência. A inépcia é o pior dos mundos, pois incentiva outros predadores a agir. A perda de pontos ou eliminação da competição do clube cuja torcida é responsável pelo dano sequer é cogitada.
Nos anos 1970 e 1980, os ingleses viviam o flagelo dos “holligans”, grupos que se diziam torcedores que levavam o terror aos estádios e às suas cercanias, até mesmo em eventos no exterior dos quais participassem equipes britânicas. Foram criadas leis específicas para lidar com a violência, permitindo a exclusão de torcedores por até dez anos. Instituiu-se o modelo “Football Banning Orders”, que permite reter e penalizar quem participe de violência ou desordem associada ao futebol.
Os ingleses também incrementaram a tecnologia de vigilância com a implantação de circuito fechado de TV para monitorar e identificar os indivíduos problemáticos e reforçaram os investimentos em estruturas de estádios e comunicação eficaz da polícia com os torcedores. Mas não bastam leis. Elas precisam ser aplicadas. E este é o principal problema no Brasil, uma vez que há uma vasta legislação tratando do tema.
A ausência de punição, independentemente da extensão do delito, é matriz para casos mais graves. Na literatura policial há a “Teoria das Janelas Quebradas”. Trata-se de um modelo de política de segurança pública que sugere que a desordem e a deterioração de um ambiente urbano podem promover o crime e a desordem social.
Desenvolvida pelos pesquisadores George Kelling e James Wilson, ela estabelece que pequenos crimes, como a quebra de uma janela, quando não corrigidos, podem levar a um aumento da criminalidade e uma redução na qualidade de vida da mesma área. A ideia central é que a manutenção da ordem e a reparação dos danos menores ajudam a prevenir crimes mais graves e a desordem generalizada.
No Brasil, o que se vê nos estádios e fora deles já ultrapassou a fase dos pequenos delitos. E, apesar de tudo, pouco ou quase nada foi feito.