O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Tadeu Leite, suspendeu uma reunião extraordinária do plenário para atender pedido do líder da oposição, deputado Ulysses Gomes, motivado por ameaças contra deputadas estaduais. Há alguns dias, os gabinetes de diversas parlamentares foram inundados por mensagens contendo ameaças de estupro e outros tipos de violência sem que até agora o autor, ou autores, tenha sido identificado.
Políticos da oposição e do governo se uniram no protesto, mas trata-se de um fato que vai além da solidariedade. A Secretaria de Segurança – como antecipou o líder do Governo, João Magalhães – está investigando. Trata-se de uma medida necessária, pois o que ora ocorre foge de qualquer parâmetro político ou ideológico. Tanto a base do governo quanto a oposição têm representantes mulheres e quando se faz esse tipo de ameaça, mesmo as deputadas que não foram contempladas por mensagens também estão sob risco.
A ampliação do embate ideológico provocou distorções no processo político, sobretudo por despertar em alguns personagens aquilo de pior que poderiam ter. A violência já está presente na própria ameaça e cabe à Assembleia cobrar medidas imediatas para apuração dos responsáveis.
Nos últimos anos, o enfrentamento físico tornou-se comum até mesmo no jogo político, que deveria ser caracterizado pelo choque de ideias. Mas a pós modernidade tem se apresentado além disso, com embates pelos parlamentos do mundo afora registrando agressões de todas as partes.
No caso da Assembleia, a situação se agrava pelo modo como a violência se explicita – no silêncio de uma mensagem eletrônica sem definição de autoria. É fato que a tecnologia vai permitir se chegar pelo menos à matriz da publicação, mas é necessário identificar a autoria, para punir o autor. Nas câmaras municipais a situação se repete. A Assembleia tem recebido relatos – inclusive de vereadoras de Juiz de Fora – sobre o risco imposto ao seu mandato.
A participação das mulheres na política é uma realidade e o aumento de sua representação é um dado real que tem incomodado vários setores, sobretudo dentro da própria política, que ainda estão com um pé no passado, sob o entendimento de que o sexo feminino e mandato não combinam. Há resistência que se explicitam até mesmo pelo ineditismo, quando uma mulher assume determinados postos. O que deveria ser comum torna-se um episódio de repercussão. A Universidade Federal de Juiz de Fora elegeu a segunda mulher para o seu comando num período de mais de 60 anos. O PT é o único partido na cidade a ser presidido por uma mulher – mesmo assim também pela primeira vez. A Prefeitura tem à sua frente, também um fato inédito, uma mulher. Todos esses eventos ainda geram surpresa.
Fica claro, pois, tratar-se de um processo irreversível, e as ameaças às deputadas estaduais indicam o incômodo que já deveria ter sido superado. Afinal, a fila andou.