Com um certo atraso, mas melhor tarde do que nunca, a presidente Dilma Rousseff anunciou o corte de dez ministérios e demissões em mil cargos comissionados. Foi durante coletiva aos jornais “O Globo”, “Estadão” e “Folha de S. Paulo”, quando abordou diversas questões, ensaiando, inclusive, um mea-culpa quando disse que não percebeu a deterioração da economia, a não ser a partir de novembro e dezembro, coincidentemente depois de ter seu mandato renovado por mais quatro anos. Garantiu a não interferência do Governo nas investigações da Polícia Federal e, a despeito do desgaste, acentuou que elas vão continuar.
A presidente deixou para os ministros da área de planejamento e da economia o detalhamento dos cortes, mas admitiu que na prática o corte de ministérios não é tão simples, devendo, antes, conversar com os aliados políticos. E aí é que reside o problema. Na campanha eleitoral do ano passado, aliados e a oposição destacavam o inchaço do Governo, com 39 ministérios, formando um cenário em que atribuições se sobrepunham, criando problemas em vez de soluções. Agora, quando o corte se anuncia, já avisam que a tesoura deve passar no quintal do vizinho. Alguns ministros, inclusive próximos à presidente, já anteciparam seu desconforto na iminência de perderem espaço.
Num tempo de crise, reduzir postos e pastas é uma estratégia necessária. Na maioria das administrações – nas três instâncias -, há mais ministérios ou secretarias do que o necessário, fruto dos acordos políticos que garantem aos partidos ocupação nos espaços de poder. Como a coalizão é garantidora da governabilidade, prefeitos, governadores e presidente têm que ceder os anéis para não perderem os dedos. A crise econômica, nesse aspecto, pode, paradoxalmente, ser a boa notícia. Na atual situação, o corte de despesas é necessário, queiram os partidos ou não.