As enchentes no Rio Grande do Sul, que demandaram a atenção do país inteiro em razão de sua magnitude, deram mostras da solidariedade do brasileiro, mas passam, agora, por uma nova etapa: o envolvimento da questão política nas ações e inações que permeiam o que deve ser feito para enfrentar a crise.
O governador Eduardo Leite titubeou em várias entrevistas – como dizer que as doações iriam atrapalhar o comércio -, mas está, agora, acertando o passo. Sua resistência inicial em dividir os méritos do trabalho com o Governo federal foi notada. A União, por sua vez, não é inocente no processo. A nomeação do ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, para ser uma espécie de interventor federal no estado, mereceu críticas, uma vez que o ministro, em momento algum, esconde a sua pretensão de disputar o Governo gaúcho em 2026.
A indicação mereceu duras críticas do tucano Aécio Neves, que a considerou uma excrecência, por achar Pimental inadequado para a função. Com ironia, o ministro disse não conhecer o parlamentar mineiro. “Aécio Neves? Não conheço”, respondeu aos repórteres.
Senador de primeiro mandato, após ter sido vice-presidente no Governo Jair Bolsonaro, o senador Hamilton Mourão virou a bola da vez. Ele tem sido criticado por não aparecer em nenhum evento de apoio à população gaúcha, a mesma que lhe deu o mandato no Senado Federal. Em entrevista à Rádio Gaúcha, disse ser um homem de 70 anos, mas destacou que tem trabalhado duro no Senado. “Este é o local que o povo gaúcho me colocou e onde tenho que buscar por meio da melhoria da legislação, para atender aos anseios da nossa população.”
Tais embates em nada colaboram para a superação da crise gaúcha. Com a redução dos temporais, cidades inteiras terão de ser reconstruídas e a capital precisa passar por um amplo processo de limpeza para evitar consequências graves, como o aumento dos casos de leptospirose, uma doença que sempre surge após alagamentos. Na última sexta-feira duas pessoas morreram da doença. Pelo menos 54 casos de infecção já foram registrados.
Os embates políticos não cessaram nem mesmo na fase mais crítica dos temporais, sobretudo em razão da disseminação de notícias falsas. Em meio a dezenas de mortes e prejuízos imensuráveis, ainda houve – e há – personagens que se dedicam a produzir fake News em nome de um enfrentamento político que só está começando.
Ex-candidato à presidência da República e, por algum momento, visto como a via ideal para fugir da polarização, o governador Eduardo Leite sabe que sua pretensão está em xeque, assim como a de diversos personagens que vem na tragédia uma oportunidade para ganhar espaço na opinião pública. É vidraça por ser o governador e por ser um pretenso candidato em 2026.
A tragédia não foi suficiente para reduzir os enfrentamentos, sendo o povo o único a dar boas lições em seus gestos de solidariedade sem olhar a bandeira política.