Uma maneira equivocada de ampliar mazelas é caírem no gosto popular. O brasileiro, de certa forma, gosta de ser o titular do famoso jeitinho, pois, no inconsciente coletivo, soa como ser esperto, improvisador, criativo, etc. Pode ser isso, mas não só isso. O jeitinho tem sido usado na sua forma mais perversa: como atalho às normas e regras de comportamento.
Nos anos 1980, o ex-jogador da Seleção Brasileira, Gérson, protagonizou um comercial em que o personagem dizia gostar de levar vantagem em tudo. A Lei do Gérson tornou-se norma de conduta, como é possível atestar até hoje. Um estudo da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo apontou que desobedecer à lei é fácil; 82% dos brasileiros reconhecem a facilidade em descumprir leis no Brasil, e 79% acreditam que, sempre que podem, as pessoas apelam para o jeitinho para evitar cumprir as normas legais. Além disso, 54% acham que existem poucas razões para obedecer às leis no país.
Os números, porém, não indignam, pois refletem, de fato, o que se passa no dia a dia do país. As classes menos abastadas são as que menos utilizam tais recursos, pois também são elas que mais se submetem às normas. Os atalhos criados nas instâncias políticas e judiciais, por exemplo, são utilizados com frequência por quem pode mais. O efeito no andar de baixo é a conhecida sensação de impunidade. Há a percepção de que os ricos e os políticos, entre outros, estão acima da lei.
E os fatos comprovam essa percepção. O mensalão, apurado em 2005, oito anos depois ainda suscita discussões, com recursos de toda ordem e outros que ainda vão surgir ao curso dos próximos dias. É fato que os desiguais devem ser tratados desigualmente, mas a lei tem por princípio a isonomia, isto é, ser igual para todos. Quando o andar de baixo percebe essa diferença, se sente no direito de também exercer a Lei do Gérson. Desta forma, todos, de uma certa maneira, ficam à vontade para contornar as leis. O resultado está nas ruas: bandalhas no trânsito, corrupção, desrespeito e tantas outras mazelas mais.