Em entrevista na manhã desta terça-feira, quando fez um balanço dos ataques a ônibus na cidade do Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro disse que se tornou uma questão de honra prender os líderes do crime organizado, embora admitisse não ser uma missão simples. Desde os episódios de segunda-feira que deram um nó na mobilidade da capital fluminense, especialmente para a Zona Oeste, os órgãos de segurança estão à caça dos responsáveis pelo caos que se instalou no fim do expediente.
O governador citou o nome de três dos mais procurados, mas sabe, de antemão, que não vai resolver o problema, uma vez que todos – a despeito da hierarquia – têm peças de reposição. O líder das milícias era o quarto na hierarquia, subindo de postos à medida que os líderes eram presos ou mortos, como dois de seus irmãos. Ontem mesmo, já se dizia que o substituto de seu sobrinho, cuja morte deflagrou os incêndios, já estava escolhido.
O governador recorreu ao presidente Lula, que já conversou com os comandos militares e com a Polícia Federal para ver o que pode ser feito. Foi ponderado ao dizer que não irá adotar intervenção federal no Rio por já saber dos resultados. Quando isso ocorreu, ainda no Governo Temer, a despeito de todo o barulho, os resultados foram pífios, não tendo mudado um só milímetro no cenário de violência da capital.
O Governo federal pode, sim, reforçar o controle de fronteiras e rodovias, mas também sabe que a solução para o problema é de longo prazo. Não basta ocupar as favelas, pois a cabeça do crime está, em boa parte, em condomínios de luxo. Ademais, só com trabalho de inteligência será possível cortar linhas de abastecimento, seja de drogas ou armas, assim como da lavagem de dinheiro.
O estado só chegou a essa situação por leniência de suas próprias lideranças, que sempre tangenciaram o problema. Como resultado, o crime foi ocupando espaços até mesmo dentro das estruturas de poder. O país deve, sim, ficar atento à sua propagação, bastando acompanhar os números. Diversos estados do Nordeste já vivem uma realidade preocupante, como é o caso da Bahia, onde cresceu substancialmente o envolvimento de grupos organizados nos crimes.
Há, ainda, um intercâmbio desses atores. Há cerca de dois meses, as polícias do Rio fizeram um pente-fino nas comunidades em busca de criminosos de outros estados. Foram encontrados, numa prova material da troca de contatos entre os grupos.
Minas Gerais não entra na lista das regiões críticas, mas deve ficar atenta, sobretudo em suas fronteiras, já que não há qualquer tipo de restrição. Os serviços de inteligência devem efetuar um monitoramento permanente, a fim de garantir que a situação está razoavelmente sob controle no estado.