Contas em dia significam crédito, e crédito acessível implica mais vendas. Nesse ciclo de ganha-ganha, a redução da inadimplência é um fator importante, o que cria expectativas ante os números apresentados pelo Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa. No Brasil, 71,45 milhões encontravam-se negativados em junho, 450 a menos do que em maio. Esse número representa 43,78% da população adulta do país.
Na busca de um novo perfil, é positivo o programa Desenrola, que chamou especialmente os bancos à mesa de discussão e tirou da lista todos os que tinham dívida abaixo ou igual a R$ 100, dando margem, ainda, a outros patamares, numa tentativa real de retornar com tal público ao mercado.
É necessário ressaltar que negociação não significa perdão. Os bancos apenas “limparam” o nome dos devedores, dando-lhes margem de voltar ao mercado, o que só será possível se numa etapa seguinte os compromissos forem honrados. É fato que haverá reincidência, mas uma expressiva parcela, ante os impedimentos de crédito enfrentados, certamente, fará esforços para cumprir a sua parte.
O aquecimento da economia se dá pela conjugação de diversos fatores. O aumento das vendas implica diretamente o aquecimento da produção, e a roda continua girando com o aumento da empregabilidade.
Quando o perfil da classe média mudou, ante o ingresso de milhões de brasileiro no mercado com maior capacidade de consumo, experimentou-se uma mudança abissal em todas as etapas. Os aeroportos ganharam um novo público, bares e restaurantes tiveram aumento de consumo com reflexos diretos na cadeia produtiva.
Com a pandemia, a economia global deu vários passos atrás, e no Brasil os reflexos foram mais acentuados em decorrência das restrições impostas pelo próprio índice de contaminação. A morte de mais de 700 mil pessoas levou estados e municípios, principalmente, a adotarem duras medidas restritivas. Foi, de fato, um preço elevado, mas nada é mais valioso do que a vida, a despeito de haver argumentos em contrário.
Vencida essa etapa, o país deve estar pronto para um novo ciclo, o que não afasta os cuidados que ainda devem ser tomados. A pandemia não acabou, mas o que se viu há dois anos era totalmente diferente dos tempos de hoje.
O aquecimento da economia se dá por ação direta das políticas de governo, mas também da compreensão do mercado sobre as práticas que devem ser implementadas para aumentar a produção. O emprego também é um desafio, pois a mão de obra ocupada é a mesma que vai às compras e paga em dia. O desemprego produz efeitos inversos e com consequências mais graves.
Aposta-se nas consequências da reforma tributária. É um dado real que ainda está sendo discutido em Brasília. Pode não ser o texto ideal, já que a unanimidade é praticamente impossível, mas é um primeiro passo, já que ninguém, especialmente o setor produtivo, dá conta de tantos tributos, muitos deles concorrentes, que refletem diretamente no preço final. E aí, de novo, o ciclo inverso. Com preço elevado, cai o consumo ou aumenta a inadimplência. É a roda em sentido inverso de tudo que se espera daqui por diante.