O carnaval deve dar um refresco de dez dias nos ânimos em Brasília, mas não há indicativos de queda na fervura. A pausa é apenas para a mudança de round, mas o embate vai continuar em várias frentes, a começar pelo próprio Governo, que mal se desvencilhou da escolha do ministro da Justiça, cedendo o cargo à pressão do PMDB, e tem, agora, que indicar quem ficará na vaga do senador José Serra, no Itamaraty. O PSDB já avisou ao presidente Michel Temer que o nome terá que passar pelo seu crivo, pois a vaga lhe pertence.
O Governo, a despeito do poder de agenda, é refém dos partidos para ir adiante, o que faz dele dono da caneta, mas dependente dos desejos da base aliada. E não há, pelo menos no atual modelo político, meios de se desvencilhar desse imbróglio. Todos os presidentes tiveram que ceder para aprovar seus projetos no Congresso, situação que há tempos promove uma formatação híbrida nas estruturas de poder. Nem mesmo o PT, que chegou ao Planalto com forte viés ideológico, conseguiu se livrar desses indigestos aliados.
Terminado o carnaval, que é quando o país, de fato, inicia o ano, há uma pauta extensa para ser resolvida, a começar pela divulgação do nome dos envolvidos na delação premiada da Odebrecht e dos senadores que se beneficiaram de parte do lobby do operador ligado ao PMDB, Jorge Luz, que teria repassado cerca de US$ 40 milhões de propinas a agentes públicos. O Ministério Público já antecipou que muitos desses são atores políticos de expressão.
Avançar nessas duas questões será o grande desafio, pois há claros sinais de ingerência política para se abortar a Lava Jato. O novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio, disse que o presidente da República recomendou-lhe ficar distante da operação. Em sendo chefe da Polícia Federal, uma das protagonistas da investigação, o conselho soa estranho, como se fosse uma deliberada omissão para parecer isento.