O presidente Jair Bolsonaro desembarca nesta sexta-feira em Brasília diante de um cenário preocupante, sobretudo por conta do agravamento das denúncias envolvendo seu filho, o senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro. Num primeiro momento, ainda em Davos, disse que lamentava como pai, mas que não iria passar a mão na cabeça do filho. Pouco depois, imputou o caso a uma tentativa de fazê-lo – ele presidente – o alvo. Como o caso vai se desdobrar ainda não se sabe, mas uma demanda que, em princípio, tinha viés fiscal e recorrente em diversos gabinetes espalhados pelo país afora – a chamada rachadinha, pela qual assessores dividem seus salários com o chefe -, está se tornando um problema do Governo, algo inesperado para uma gestão que ainda não fechou o primeiro mês.
Imputar aos meios de comunicação uma perseguição não é o caminho mais prudente, pois todos os que seguiram essa trilha viram seus discursos irem abaixo diante das evidências, daí ser fundamental buscar-se um novo caminho, para garantir amplo direito de defesa ao senador e uma versão plausível não só para o Ministério Público mas para os eleitores que lhe conferiram um mandato de senador da República.
O fato de ser filho do presidente da República eleva o patamar da discussão, pois não se trata de um cidadão comum, nem apenas um político. Há um link direto com o chefe do Governo que amplia qualquer ação que seja encetada.
Num momento em que o Governo precisa estar focado em questões necessárias para a retomada do crescimento, como as reformas da Previdência e tributária, um caso como esse fragiliza a instância de poder, o que induz, sobretudo, ao risco de o Parlamento retomar o velho e questionável balcão do toma lá, dá cá. Os partidos têm um feeling próprio e percebem quando podem elevar o valor de suas cobranças. É fundamental que o presidente não caia nessa armadilha e toque as reformas do modo necessário, sem ceder à pressão dos aliados de conveniência, que vão surgir para “ajudá-lo” numa questão que começou sob o viés familiar.