O período de seca parece, enfim, ter cessado em Juiz de Fora, momento de transição característica da primavera. No entanto, a volta das chuvas traz à tona problemas históricos na cidade e que demandam, naturalmente, tempo para serem solucionados. Tempo, este, contudo, que comerciantes e moradores dos bairros Santa Luzia, na Zona Sul, Industrial, na região Norte, e de outras comunidades, infelizmente não têm. Trabalhadores que, inclusive, correm atrás do tempo por perdas registradas subsequentemente ao longo de anos de alagamentos. E esta realidade de quem sofre – não só com perdas materiais, mas também consequências psicológicas – com o retorno das precipitações é necessariamente escancarada em matéria produzida pelos repórteres Bernardo Marchiori e Pedro Moysés.
De forma previsível, o debate se politiza, mas não se humaniza. A cobrança ao poder público deve ser permanente, de fato. Em posicionamento oficial, o Município lembra ter sido parte do plano de governo do primeiro mandato da prefeita Margarida Salomão a realização de obras para ao menos mitigar os danos em curto prazo, com a primeira etapa do programa de macrodrenagem da bacia do córrego de Santa Luzia, por exemplo. Ainda reforça que, com parte dos R$ 420 milhões obtidos, o programa Juiz de Fora +100 irá combater a deficitária estrutura que não coíbe as enchentes em diversas regiões de Juiz de Fora.
Lembrado o compromisso firmado pelo Executivo – e , certamente, monitorado pela Tribuna ao longo dos próximos anos – vamos ao outro problema histórico, este mais humanizado e menos verdadeiramente admitido pela população. A culpa do tamanho dos danos causados anualmente é de cada um de nós também. Sabendo que, segundo o próprio Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o trimestre de novembro a janeiro é, documentadamente, o mais chuvoso na Zona da Mata, com pancadas de verão e elevados acúmulos de água, o que nós temos feito?
Temos cobrado ações do Município e do Estado voltadas à conscientização da população, desde a relevância da produção e coleta de lixo até a óbvia poluição e o mau uso da área urbana? Aconselhamos nosso vizinho, familiar ou conhecido mesmo que pelo grupo de WhatsApp? Denunciamos práticas, como ocupações irregulares, em espaços geográficos?
Maus exemplos – e recentes – estão por toda a parte. Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, cada um em sua proporção. Precisamos, genuinamente, admitir os problemas como individuais e coletivos e entender que poderiam ser com nossa família. Inserir em nossas rotinas atitudes sustentáveis, diárias, que possam amenizar tamanhas mudanças climáticas e sofrimentos consequentes. E monitorar riscos. Cobrar ações. Denunciar. Pensar em nosso futuro, para que o problema seja histórico como uma lembrança ruim e uma lição em livros, e não como um alerta de tempestade na agenda do celular para a simples lembrança de levar o guarda-chuva para o trabalho.