A tragédia de Goiás, na qual um adolescente de 14 anos matou dois colegas de sala de aula da mesma idade e feriu outros quatro, não pode ser incorporada ao cotidiano como algo comum aos tempos atuais, fruto, a começar, pelo uso de armas dentro da sala de aula. Há, de fato, esse componente, mas não é o único. Ao ter acesso às armas dos pais – ambos policiais -, o garoto encontrou uma facilidade que ajudou na consumação do ato, mas a causa não está aí.
De acordo com relatos de outros estudantes, ele era alvo de bullying dentro da sala de aula, prática, aliás, muito comum nos bancos escolares, em que, até mesmo de forma ingênua, colegas desconstroem determinado personagem dando ênfase às suas dificuldades ou deficiências. O que não avaliam são as consequências.
O bullying não se esgota em si mesmo. Ele leva ao isolamento e até mesmo à depressão, devendo, pois, ser combatido, tamanho o dano que provoca. Apartada dos demais companheiros, fruto da exclusão que lhe é imposta, a vítima, no limite, chega a tais extremos, mesmo não tendo qualquer outro tipo de distúrbio. O número de casos é expressivo, embora nem todos tenham resultados tão graves.
Por isso, é fundamental, já a partir de casa e, sobretudo, nas escolas, nas quais a convivência é uma regra, a discussão sobre esse tema. Os autores, em boa parte, desconhecem os danos que provocam no colega, achando ser uma brincadeira própria da idade. Mas não é. O alvo não tem a mesma leitura e, se não for acolhido, pode tornar-se um risco para os demais e até mesmo para si próprio.