Em discurso na Cúpula do Futuro, que precede a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, o presidente Lula disse no domingo que a Organização precisa passar por uma transformação para resolver a questão da governança global. Lembrou que vários compromissos firmados nos últimos fóruns dificilmente sairão do papel, como a Agenda 2030. Sua fala ocorreu na véspera em que líderes da maioria dos países reunidos na Cúpula assinaram um documento com 56 ações para o futuro do planeta.
Entre as medidas previstas no pacto estão agir de forma ambiciosa, acelerada e justa para implementar a Agenda 2030 e atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, “não deixando ninguém para trás”. A erradicação da pobreza está colocada no centro desses esforços, segundo o Pacto.
No papel as considerações são perfeitas. Sua implementação é o problema, como lembrou o dirigente brasileiro, a começar pela Agenda 2030. Os líderes admitem que farão todos os esforços para cumpri-la, mas não é algo simples, sobretudo em razão de outras promessas que não executadas. Como também observou o presidente brasileiro, “a pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais.”
O documento em si é a prova material do distanciamento entre as propostas e a prática. “Estamos profundamente preocupados com o atual ritmo lento de progresso no combate às mudanças climáticas. Estamos igualmente profundamente preocupados com o crescimento contínuo das emissões de gases de efeito estufa e reconhecemos a importância dos meios de implementação e apoio aos países em desenvolvimento, e a crescente frequência, intensidade e escala dos impactos adversos das mudanças climáticas, em particular nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles que são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas”, diz o texto.
Em 1992, quando o Brasil abrigou a Eco 92, com a presença de mais de cem chefes de estados, todos estes temas já estavam à mesa. Os fóruns que atuaram como desdobramentos do evento no Rio de Janeiro seguiram na mesma linha. E pouco mudou. A ONU admite a preocupação, mas não apresenta saídas para resolver esse velho impasse.
Quando muito, lança 56 propostas, mas já há resistência em países com poder de veto que apontam para o fracasso das negociações. Os maiores emissores de gás são, coincidentemente, os países com mais poder na organização.
Espera-se que desta vez haja avanços mais significativos, sobretudo quando há consenso dos riscos iminentes. O planeta se aproxima do ponto de não retorno e dá sinais claros desse processo. O inverno brasileiro foi marcado por intensas ondas de calor. O verão do Hemisfério Norte por ciclos de frio intenso. Apontar o El Niño ou a La Niña como fatores responsáveis por tais mudanças é mera justificativa, quando se sabe que o fator humano é o que mais pesa.
As chuvas de outubro só deverão ocorrer na segunda metade de outubro e ainda não há certeza sobre sua intensidade. O único dado real é que os municípios – nos quais tudo acontece – trabalham com contenção de danos, já que o clima e sua instabilidade têm causas mais profundas cuja solução está na agenda da ONU, embora, ressaltando a fala do presidente Lula, continue apenas no papel. O futuro em pauta é o agora.