A decisão do Governo de suspender a nova tabela de frete, cuja implementação poderia conduzir o país a uma nova greve dos caminhoneiros, foi positiva, sobretudo por levar em conta a necessidade de estudos mais profundos para o setor. A despeito de o último evento ter ocorrido no ano passado, o grupo de trabalho implantado pela ANTT não chegou ao resultado esperado, sobretudo para a categoria, que voltou a apontar falhas no processo. Desta vez, porém, uma nova proposta não pode levar tanto tempo, sob o risco de levar a incerteza para as ruas.
A greve do ano passado, que deu um nó no país, com o comprometimento dos transportes, especialmente, e suas consequências, como falta de produtos e combustíveis, continua sendo uma lição para os dirigentes ante a necessidade de avaliação de outros modais. Ao abdicar de suas ferrovias, colocou todos os ovos numa única cesta, o que o faz refém em situações como a de 2018 e do ensaio do início da semana. Quando o presidente Washington Luiz disse que governar era construir estradas, tinha a mesma visão: não podia ficar apenas na dependência das ferrovias. Ele não contava, porém, com a retirada do trem dos trilhos para transformar as estações em museus.
Na Europa, principalmente, as rodovias dividem espaço com o trem nas políticas de mobilidade, bastando ver o trânsito interpaíses feito por trens de alta velocidade. Entre Paris e Londres, duas das principais capitais do continente, o Euro Star cumpre o percurso em pouco mais de duas horas, com direito a passar debaixo do Canal da Mancha. Ele também liga a Grã-Bretanha a outros países, dividindo o fluxo de passageiros com ônibus e aviões.
É necessário, pelo menos, revitalizar as ferrovias ainda em funcionamento, hoje exclusivamente para o transporte de cargas, como o minério, ante a demanda crescente de usuários. Por um tempo, pensou-se num trem-bala entre Rio e São Paulo, mas a ideia esbarrou nos custos, fruto, sobretudo, da falta de planejamento.
Com nova ameaça de greve, há a necessidade de sentar-se à mesa com os caminhoneiros, mas, também, recolocar os demais modais no centro das discussões.