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Fura-fila

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O título farinha pouca, meu pirão primeiro, aludindo ao comportamento humano de dar prioridade aos seus interesses pessoais, foi mais uma vez comprovado na primeira semana de vacinação contra a Covid-19. Em vários pontos do país, foram constatados casos de fura-fila, isto é, personagens que, embora estivessem fora da lista das prioridades – o foco, hoje, são os profissionais que atuam na linha de frente de combate à pandemia e idosos em abrigos -, foram imunizados. Até detratores da vacina foram atendidos, num claro caso em que o Ministério Público precisa tomar providências. Médicos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, denunciaram que alunos sem contato com a Covid-19 também foram beneficiados. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, classificou tais beneficiados de sem caráter.

Diante de números tão expressivos de contaminação, a população não esconde sua ansiedade pela vacina, ainda mais pelo fato de a sua aplicação ter sido “vendida” pelas autoridades como um fato coletivo pelo qual todos seriam atendidos imediatamente. O que se vê, agora, é uma luta para obtenção de insumos, que já deveria ter sido feita há mais tempo. A falta de estratégia, ou de interesse, especialmente do Governo federal, implantou um clima de angústia, pois ninguém sabe quando será contemplado com a imunização.

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Para reparar parte do dano, só há um caminho: agir com transparência. As instâncias de poder precisam apresentar seus planos de vacinação, incluindo possíveis datas, pois só assim será possível reduzir a tensão popular. O Brasil tem expertise em vacinação, e sua estrutura é referência para o mundo, graças ao SUS, mas, enquanto não houver explicações claras de como o processo vai se desenvolver, a dúvida e o medo vão continuar.

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A incerteza é o pior dos mundos, sobretudo quando é agravada por mais uma fala do presidente da República, dizendo que a vacina não tem comprovação científica, indo contra avaliações da própria Anvisa, que, ao liberar a vacinação, garantiu sua eficácia. Daí, o trabalho com a população deve ser redobrado. Primeiro, para garantir que, no tempo certo, todos serão imunizados; em seguida, de que, a despeito de não haver obrigação para ser vacinado, trata-se de um gesto importante, pois não se esgota na própria proteção individual. O benefício é coletivo.

Não há dúvidas de que os cuidados como uso de máscara, higienização e, sobretudo, evitar aglomerações serão demandas de longo prazo. A vacina, porém, é a luz no fim do túnel após um 2020 marcado por mortes e contaminações. Os fura-filas precisam prestar contas à Justiça, e os governos devem, o quanto antes, acelerar o processo de imunização coletiva.

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