Quando abriu uma conta em um banco suíço, o ex-deputado Eduardo Cunha, ora preso em Curitiba, registrou ter um patrimônio de US$ 20 milhões. No Brasil, disse ter apenas R$ 1,2 milhão. Trata-se, é fato, de um típico caso de sonegação, algo não tão incomum ante as taxas impostas ao capital e ao trabalho no país, mas indica, também, que ele, como outros demais, temia pelas apurações do banco e sofrer as devidas penalidades.
O gesto de Cunha é fruto de uma série de mazelas, mas é emblemático, quando se discute a lei de repatriação de recursos ora alocados no exterior. Como nem todo o montante é fruto de ilícito, é possível colocar em pauta a causa de tal evasão. Mas o foco, hoje, é avaliar como um político, que basicamente viveu do mandato ou de cargos públicos, amealhou tanto dinheiro. É a prova material da mistura ilegal de público e privado que agora se revela nas muitas operações da Polícia Federal em parceria com o Ministério Público.
Esse patrimonialismo vem de longe. Mas, num mundo com informações em tempo real e de equipamentos cada vez mais sofisticados de controle, é possível agilizar as ações, sobretudo do Judiciário, para punir tais infratores. Ao participar do fórum da Associação Nacional dos Editores de Revistas, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, não só defendeu a liberdade plena de imprensa como destacou que o Judiciário também precisa mudar. Para a ministra, o juiz terá que mudar sua dinâmica de trabalho, sendo mais rápido no julgamento de suas ações, porque as novas tecnologias exigem respostas imediatas.
O juiz Sérgio Moro, aliás, demonstrou que isso é possível. Enquanto o caso de Eduardo Cunha dormiu por vários meses no Supremo Tribunal, que ela própria preside, ele, em menos de um mês, mandou o ex-presidente da Câmara para a cadeia. O magistrado tem sido ágil em suas ações, fazendo de Curitiba uma referência para outras instâncias sobre o que é possível fazer.