Ao conceder prazo de 45 dias para o Governo se defender nas novas denúncias de pedaladas fiscais, o que implica apontar na discussão do tema só em 2016, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, exerce a prerrogativa de empurrar com a barriga temas relevantes, alguns deles de interesse do próprio Governo, como a votação da DRU e do orçamento. As matérias continuam emperradas nas comissões técnicas, a começar pela de Constituição e Justiça, e não se nota nenhum interesse em acelerar tais votações a despeito de serem parte estratégica do ajuste econômico.
Pressionado pelos prazos, o ministro Joaquim Levy já avisou que está preocupado, pois nada irá ser resolvido se o Congresso não votar. O ponto central está no ritmo de Renan e na insegurança em relação à própria base. O Planalto não pode perder tais votações sob o risco de ver por água abaixo todos os esforços feitos até agora. A base aliada, especialmente o PMDB, contemplada com mais espaço na estrutura de poder, ainda não dá garantias de fidelidade plena.
No mesmo dia em que o ministro se lamentava, o PMDB deu quórum para uma homenagem ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o mesmo que boa parte quer ver fora da presidência, mas sob contestação de uns poucos corajosos. Os peemedebistas, pois, acendem uma vela para Deus e outra para o diabo, numa postura dúbia, que leva apreensão ao Governo. Afinal, qual PMDB irá votar o ajuste: o que ocupa cargos estratégicos nos ministérios, ou o que joga de acordo com a arquibancada, voltado para suas conveniências e com a expectativa de ser ele o próprio poder?