Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso abriu a discussão em torno da reeleição – algo que seu antecessor, Itamar Franco, condenava -, ainda não havia qualquer debate em torno das consequências do mandato consecutivo. Ao contrário, o discurso recorrente era de premiação aos bons gestores, uma vez que em quatro anos é impossível cumprir toda a agenda de campanha. Os críticos, no máximo, defendiam um mandato de cinco anos, mas sem reeleição.
Com um forte lobby do Planalto, a matéria passou, e FHC voltou às urnas em 1998 para conquistar o segundo mandato. Encerrado seu ciclo, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, antes um crítico, também passou oito anos à frente do país. Sua sucessora, Dilma Rousseff, foi reeleita, mas seu impeachment não permitiu a conclusão do mandato, o que foi feito pelo vice, Michel Temer.
O presidente Jair Bolsonaro é também um crítico da reeleição, mas já não descarta a possibilidade de disputar mais um mandato, o que não chega a ser surpresa. Trata-se de um legítimo direito e como está capitulado em lei. O que, de novo, se discute é o açodamento da instância política com ou sem reeleição. Se o presidente já pensa no próximo pleito, alguns adversários, inclusive no seu campo ideológico, fazem o mesmo. Os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, vivem momentos midiáticos, embora nem tudo dê certo. O dirigente paulista tinha como mote da semana a expulsão do deputado Aécio Neves, mas a rejeição do pleito dos diretórios de São Paulo por expressiva maioria mostrou que o ex-governador de Minas não está morto – ele é cardeal na política – e que Doria ainda precisa de mais estrada para se apresentar como a opção tucana para 2022.
No Rio de Janeiro, o governador ganhou visibilidade ao descer do helicóptero da PM em plena ponte Rio-Niterói para celebrar a ação dos snipers do Bope que mataram o sequestrador que tomou um ônibus que ia em direção ao Rio de Janeiro. Surfou na onda e disse que a PM vai continuar agindo dessa forma em defesa da sociedade. O número de homicídios no território fluminense caiu, mas aumentaram as ações letais da polícia.
Os agentes políticos adotaram a tática da antecipação por questões próprias do processo, mas é necessário fazer uma avaliação mais consistente do tema, pois, diante do embate para o segundo mandato, a primeira gestão, muitas vezes, é mais voltada para as urnas do que para as próprias necessidades da população no país, no estado ou no município.