Temperaturas de até 56º nos Estados Unidos, inéditos 49º na Europa e ciclones no Sul do Brasil são claras evidências de que tudo está fora do lugar quando se fala do clima. Os institutos apontam para situações mais críticas nas próximas décadas, como se a natureza avisasse que o pior ainda está por vir se nada for feito para mudar a relação humana com o meio ambiente.
A despeito das muitas discussões e de claros avanços em alguns segmentos, as ações ainda são tímidas diante de um fenômeno de conformação global. O vizinho Uruguai registra secas históricas, e em algumas regiões os cursos de água já registram a presença de sal, embora sejam de água potável.
O grave desse enredo está no tempo. Reverter o que ora ocorre não é fruto de medidas de curto prazo, sobretudo quando os danos foram implementados por várias gerações. Já no crepúsculo do mandato do ex-presidente Fernando Collor, o Brasil foi sede da Eco 92, que reuniu cerca de cem líderes mundiais para a tomada de medidas – já naquele tempo – contra as instabilidades climáticas. O documento resultante do evento defendia a tomada de uma série de providências, mas, fora o discurso, pouco foi feito, antecipando um descaso que se tornou permanente.
No ano passado, na Escócia, ocorreu uma nova cúpula, e as conclusões foram as mesmas, mas os avanços são tímidos a despeito da urgência para a tomada de providências. O Brasil tem papel assertivo nesse processo por ter a maior parte da Amazônia em seu território. O presidente Lula tem batido recordes de viagens ao exterior e tem colocado a questão climática na sua agenda, mas é necessário também fazer o dever de casa.
Os desmatamentos na mesma Amazônia e a falta de consciência ambiental em diversos estratos da população exigem a ampliação de discussões sobre o meio ambiente, especialmente nas escolas.
Cidades como Uberlândia já estão se mobilizando para ampliar a conversão do resíduo dos esgotos em insumos. De acordo com o portal Ciclo Vivo, a prefeitura da metrópole do Triângulo Mineiro está caminhando para aproveitar o lodo de esgoto gerado na cidade como matéria-prima para a geração de energia. O método, já aplicado no Paraná, transforma o que seria problema em solução para economia de recursos.
Em Juiz de Fora, a municipalidade ampliou as rotas de coleta seletiva, a fim de aproveitar parte do lixo e, em vez de descartá-lo no aterro sanitário, encaminhá-lo para projetos de reciclagem.
O somatório de projetos é fundamental, uma vez que todos precisam, de acordo com o seu papel no grupo, desenvolver ações em defesa do meio ambiente.
O que há algum tempo era uma pauta de abnegados, muitos deles criticados por sua postura, tornou-se uma demanda global. Os avisos da natureza apontam para a urgência de medidas, sob o risco – como já foi dito reiteradamente neste mesmo espaço – de se chegar a um ponto de não retorno, o que não está tão distante de acontecer.
Trata-se, aliás, de um paradoxo. Diante de tanta tecnologia, agora com o auxílio da inteligência artificial, a humanidade continua colocando tal demanda em segundo plano. Algo inconcebível.