A intolerância sem limites de torcidas espanholas contra o jogador Vinícius Júnior, especialmente, mostra a quantas anda o preconceito também o futebol. O brasileiro, após tornar-se uma das principais referências do Real Madrid, passou a ser alvo de campanhas sistemáticas que chegaram ao cúmulo de simular um enforcamento de um boneco caracterizado como o atleta.
No domingo passado não foi diferente. Numa partida contra o Valência, grupos organizados iniciaram o grito de Mono (macaco em espanhol) a cada intervenção do jogador brasileiro. Ao final, com nervos à flor da pele, ele ainda teve o ônus de uma expulsão. Pode ter sido por questões dentro do jogo, mas ninguém em sã consciência suporta tamanha pressão, ainda mais um jovem de apenas 22 anos, cuja “culpa” é o sucesso que ora apresenta e seu papel decisivo no time madrilenho. Á muitos Vinícius que não tiveram o sucesso. Continuam discriminados e vivendo a sua dor cercados pelo silêncio?
O racismo tornou-se uma rotina no futebol, com ocorrências frequentes nos gramados e nas arquibancadas, a despeito de todas as discussões que envolvem o tema. Desta vez, até o Governo brasileiro se manifestou e convidou a embaixadora do Brasil a dar explicações. Espera-se que não seja apenas um gesto político para ganhar evidência, mas a CBF fez melhor ao levar a demanda à Fifa em busca de providências mais drásticas, sobretudo por conta da conivência de clubes e dirigentes, como presidente da La Liga, que considerou normal o que ocorreu. Até o presidente da Federação dos Clubes da Espanha reagiu e classificou a afirmação do colega como irresponsável.
Vinícius disse que vai continuar lutando, mas esse não é um embate de um só personagem. Deve e precisar ser uma luta coletiva, e não apenas dos negros. Em pleno século XXI, a despeito de todos os avanços, ainda se percebe que há um imenso caminho a ser percorrido, o que exige políticas públicas e punição àqueles que se sentem acima dos demais por questão de raça, cor ou credo.
O futebol, como os demais esportes, deve ser uma atividade de inclusão e quando um grupo de torcedores toma tais atitudes, é necessário apontar-lhe o braço da lei. Os episódios do outro lado do Atlântico também tiveram réplicas no Brasil, com torcedores ofendendo não apenas jogadores, mas também torcidas adversárias. Quando surpreendidos, apresentam desculpas por não terem medido a dimensão do fato.
A discussão deve começar na escola, na formação dos novos cidadãos, para garantir que no futuro a intolerância seja um ato do passado. Mas para isso, não basta só o discurso e gestos de solidariedade. É preciso agir.