De ontem até esta sexta-feira, a Organização das Nações Unidas realiza a Conferência da ONU sobre as águas, já considerado o principal evento em mais de uma década diante dos impasses envolvendo populações mais carente do planeta. Pelo menos 2,2 bilhões de pessoas, o que significa 25% da população do planeta, não têm acesso a água tratada, enquanto 4,2 bilhões (52%) a instalações sanitárias. Como pano de fundo estão as mudanças climáticas, que alteraram a sazonalidade do clima. Em algumas regiões há chuva em excesso e em outras a seca tornou-se quase permanente.
As discussões são amplas e apontam para problemas que também são comuns no Brasil, sobretudo quando se fala em tratamento de esgoto. Na edição de ontem, a Tribuna revelou que Juiz de Fora está na 70ª posição entre as cidades brasileiras no quesito água/esgoto, que se mantém já por algum tempo. As cidades de Santos e Niterói têm a melhor performance, assim como Uberlândia, em Minas Gerais.
Juiz de Fora vai bem no abastecimento de água, mas ainda tem um expressivo passivo no tratamento de esgoto, resultado não só da falta de recursos, mas também por conta da topografia. Há tempos, um dos desafios é estabelecer uma rede exclusiva para os esgotos e outra para as águas de chuvas, o que só será resolvido no longo prazo. A despoluição do Paraibuna implica necessariamente nesta separação.
O Brasil não vive os dramas de países nos quais muitos rios sequer chegam ao mar ou a outros dos quais são afluentes, mas precisa estabelecer políticas de longo prazo para não se surpreender com os novos tempos. Há ensaios, por exemplo, de mudanças no Marco Regulatório de Saneamento Básico, cuja meta é mudar a situação do país no contexto internacional. Hoje, cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a rede de esgotos, enquanto 35 milhões não são servidos por água potável.
O jornal “O Globo”, em editorial, alerta para a pressão de prefeituras, especialmente do Norte e Nordeste do país, que têm acordos com empresas estatais e insistem em renovar seus acordos mesmo diante de uma série de problemas. Em Minas, desde o primeiro dia do mandato, o governador Romeu Zema tenta privatizar a Copasa, mas esbarra na Assembleia Legislativa. Ele cobra mais eficiência da empresa, mas o lobby político – assim como no Norte e Nordeste – é muito forte.
O Governo do presidente Lula ainda não revelou sua posição sobre o tema, mas há um dado real a ser considerado. Se nada for feito, o país estará regredindo nas suas políticas ambientais que não se esgotam no país, tornando-se uma demanda global. Os participantes da Conferência da ONU devem apontar para medidas imediatas, já que a natureza, de forma enfática, tem apontado as mudanças. Países como a Holanda tem outro tipo de preocupação, mas também resultante do clima. O país, abaixo do nível do mar, se vê diante do aumento do volume do mar e busca ações imediatas para a contenção das geleiras ora sob o risco de descolamento. Trata-se de um problema que afeta várias partes do mundo, entre elas algumas regiões do Brasil.
Ao fim e ao cabo, todos estão diante de um problema comum com consequências distintas. Se nada for feito, todos, no entanto, estarão no ringue dos derrotados.