Como se não bastasse o impasse econômico que não tem fim, o presidente Michel Temer ainda tem que administrar questões domésticas envolvendo seus ministros. O titular da Cultura, Marcelo Calero, pediu as contas por se sentir pressionado pelo seu colega Geddel Vieira Lima, da pasta de Governo, interessado na construção de um prédio em área questionada pelo Iphan, por considerá-lo um risco não apenas para o meio ambiente, mas por abrir precedentes para outros empreendimentos capazes de mudar a paisagem do local, um dos pontos mais nobres de Salvador. Geddel admitiu o lobby, mas não em termos suficientes para que o titular da Cultura se demitisse.
Neste caso, porém, a intensidade do pedido é o que menos pesa. Quando um ministro pede decisões pouco republicanas de um colega de Governo por conta do interesse próprio – ele comprou um apartamento no local -, está mais do que consignado o interesse pessoal acima do coletivo. O mínimo que deveria fazer, agora, é pedir para sair também, a fim de tirar tal constrangimento do presidente.
Quando o país se passa a limpo, ações como essa são reveladoras da prepotência de alguns atores políticos que ainda não compreenderam o novo momento, agindo como se tudo fosse possível quando se está no poder. Conhecido pelo seu jeito peculiar de fazer política, Geddel ainda está no tempo do “tudo pode”, quando a situação não é mais assim. Seu gesto, mesmo não tendo viés de irregularidade formal, feriu princípios éticos que são parte sine qua non para quem ocupa um posto no primeiro escalão do Governo.
Se não pedir para sair, cabe ao presidente tirá-lo, pois o gesto foi temerário e indicativo de que pode ir além de um simples pedido em outras questões.