Em 2014 e em 2107, a Região Sudeste passou por uma intensa seca, considerada a pior dos últimos oitenta anos. Nas duas ocasiões, a falta de água afetou significantemente o abastecimento de água e a agricultura, repercutindo também na indústria. Os estudos na ocasião apontaram que a estiagem ganhou contornos mais agudos em decorrência de condições meteorológicas específicas, como a atuação anormal da alta subtropical do Atlântico Sul e fenômenos de bloqueio atmosférico que impediram a formação e o avanço das frentes frias.
O cenário que se formou na ocasião teve um efeito pedagógico. Ampliou-se a conscientização para a produção de águas, embora aquém dos níveis necessários. Muitas regiões do país ainda vivem ciclos extensos de escassez, o que não se trata de uma questão eminentemente brasileira. Nos Estados Unidos, rios da dimensão do Colorado que deságua no Golfo da Califórnia, deixam de chegar ao mar em diversos períodos devido o excessivo consumo de suas águas e pelos impactos da mudança climática.
Na Ásia a situação é mais crítica. Rios de grande extensão e volume de água passam pela mesma situação a despeito de serem considerados como Terceiro Polo ou Torres de Águas da Ásia. Também lá, o consumo desordenado, descontrole ambiental e mudanças climáticas são fatores importantes nessa questão. Paradoxalmente, o incremento da Inteligência Artificial demandará atenção, pois, para seu funcionamento, o uso de água em grande escala é preocupante.
O Dia da Água, comemorado nesta sexta-feira, é emblemático no Brasil, por ter o viés de chamar a atenção para o problema dos rios, mananciais e nascentes, mas também por induzir a implementação de políticas de produção de água. Em Juiz de Fora, a Prefeitura anunciou um promissor projeto que conta com a participação de produtores da área rural, que serão remunerados quando protegerem as nascentes por meio de reflorestamentos. A cidade é privilegiada por represas que garantem o abastecimento pelos próximos 50 anos, mas é vital pensar nas próximas gerações.
As estiagens de 2014 e 2017 induziram a instância política a criar leis para proteger os mananciais e garantir a segurança hídrica. A ONG WWF-Brasil tem sido uma voz ativa na defesa de criação de um Plano Nacional de Proteção de Nascentes e Mananciais ao destacar a importância de revisar o modelo de gestão hídrica focado apenas na construção de novos reservatórios, argumentando que é crucial aumentar a oferta de água através da proteção de bacias hidrográficas e da vegetação que protege os corpos d’água e as nascentes.
Outras ações também merecem crédito, como o Programa Especial de Proteção das Nascentes, oferecido pelo Sistema CNA/Senar, que, por meio de cursos, destaca processos importantes para identificar, proteger, limpar e controlar a erosão ao redor das nascentes, incentivando práticas sustentáveis no meio rural.
Ao trabalho das Organizações não Governamentais deve se somar instâncias públicas e privadas, para reforçar a adoção de políticas públicas eficazes e fundamentais para garantir, sobretudo, a sobrevivência das nascentes. A data, pois, é apenas um momento, de conscientização e reforçar a necessidade de um projeto coletivo e de longo prazo. Afinal, diversas regiões do país registram passivos nos padrões de potabilidade que levam à vulnerabilidade de populações inteiras devido à qualidade da água distribuída.