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Para refletir

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O Dia da Consciência Negra, celebrado nessa quarta-feira, precisa ser tratado como uma data emblemática, mas deve servir, principalmente, como data de reflexão. O país, a despeito de uma estratificação populacional que aponta um crescimento expressivo da população negra, é injusto. A virada do milênio, que, em tese, poderia indicar novas posturas, pouco mudou quando se trata de números, de comportamentos e de ações.

Nos números, no mercado de trabalho, salvo raras exceções, o negro, quando não ocupa postos subalternos, tem vencimentos menores, mesmo em cargos semelhantes.

No comportamento, o mundo vai de mal a pior. A cada dia, são mostrados gestos de preconceito, quase sempre seguidos de desculpas forçadas, sem qualquer viés de arrependimento. Jogadores da seleção inglesa de futebol foram ofendidos pela torcida da Bulgária. A única punição foi a obrigação de o próximo jogo ser de portões fechados. A Fifa, em vez de agir pedagogicamente, os incentiva com tais omissões.

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No Brasil, que durante anos se sustentou o discurso do homem cordial, as ocorrências se espalham por todos os lados. No clássico entre Cruzeiro e Atlético, dois irmãos, além de ofenderem especialmente o segurança negro, cuspiram no seu rosto. No dia seguinte, diante do medo de retaliações, disseram não ser preconceituosos. “Meu barbeiro é negro”, vaticinou um dos “arrependidos”. Se não eram, qual foi a razão do gesto?

Na última quarta-feira, quando um cartaz denunciava a ação do Estado contra a população negra, que faz dela o maior contingente de vítimas nas ações letais, o deputado Coronel Tadeu quebrou um painel e disse, ontem, que faria de novo, num gesto que causou perplexidade entre os próprios pares. Resta saber se sua postura ficará na gaveta do tempo.

Os exemplos acima são apenas a face mais explícita de uma questão que passa por várias frentes, não se esgotando no espaço esportivo. Ainda está longe o tempo em que as oportunidades serão iguais. Quando essa chance surge, o cenário muda, bastando avaliar os dados das universidades públicas, em que o número de negros nunca foi tão expressivo como agora.

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O preconceito, quando se desdobra, também passa pelo gênero e pela raça, em que mulheres e gays são tratados como cidadãs e cidadãos menores, a despeito de a essência ser a mesma.
Esse jogo só será virado com educação e ações afirmativas.

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