Restando apenas uma semana e meia para as eleições, um dado preocupa eleitores e as próprias instâncias de segurança: mais de dois terços da população (67,5%) têm medo de agressão em razão de uma escolha política ou partidária. Os dados divulgados pelo jornal “Valor Econômico” estão no estudo Violência e Democracia: Panorama Brasileiro Pré-Eleições de 2022 – Percepções sobre Medo de Violência, Autoritarismo e Democracia”, da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). A amostragem e a coleta de dados foram feitas pelo Datafolha.
A polarização, que se explicita não apenas na disputa nacional, mas também nos estados, é a matriz de uma série de eventos registrados pela polícia e expostos na mídia e nas redes sociais. A aproximação do pleito é vista por alguns segmentos como o momento do tudo ou nada. Outros entendem que o direito de opção ou opinião é unilateral, rejeitando o necessário contraditório do jogo político. O discurso do “nós contra eles” sempre foi danoso à democracia, por induzir a formação de muros em vez de fronteiras.
Como resultado, nos últimos quatro anos, muitas relações foram rompidas, e laços familiares, desfeitos. O sentimento que ora se explicita em números é resultado do medo que se instalou na sociedade. O que era para ser uma celebração tornou-se apreensão.
Os próprios atores políticos têm o dever de um chamado ao bom senso, apontando que eleição é um processo permanente – no Brasil de dois em dois anos -, o que exige serenidade dos votantes e dos votados.
Esticar a corda não é um processo recente, mas o próprio eleitor, ao se manifestar nas urnas, quebrou tensões, sobretudo por entender que há demandas importantes a serem resolvidas que vão além do viés ideológico. Passado o período eleitoral, os problemas são de todos, e a solução deve ser buscada por meio de discussões, e não de enfrentamentos.
O excesso de partidos mudou o perfil das legendas, e muitas delas, desprovidas de qualquer linha programática, têm dono, que, em vez da boa política, as utiliza para proveito próprio ou de pequenos grupos. Os muitos escândalos que permearam a cena nacional nas últimas décadas foram fruto desse balcão de negócios que se instalou nos parlamentos com repercussões nos executivos, uma vez que, num modelo de coalizão, a interdependência dos poderes tornou-se um negócio.
A sociedade deu pistas de indignação quando foi às ruas em 2013, mas o que era um movimento de causas difusas enveredou para a radicalização. Há, é fato, bandeiras importantes que foram tiradas da mobilização, mas não faz sentido fazer delas causas pessoais, nas quais, em vez de aliado, o inimigo é o outro.