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O legado de Tancredo Neves

editorial
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  O legado de Tancredo Neves. Já passava das 8 horas da noite do domingo 21 de abril de 1985 quando o porta-voz da Presidência da República, Antônio Brito, que mais tarde viria a ser deputado e governador do Rio Grande do Sul, ocupou a rede nacional de rádio e TV para anunciar que “o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo Neves, acaba de falecer”.

  A notícia criou uma comoção geral, uma vez que, a despeito de todos os indícios da gravidade que acometia o presidente, havia esperança de que ele fosse para o Palácio do Planalto e assumisse a Presidência, ora ocupada pelo seu vice, José Sarney. Como é próprio de muitos políticos, Tancredo escondeu a diverticulite até o derradeiro momento de início do poder civil. Ele temia que, em avisando antes, haveria indisposição dos militares em dar posse ao senador José Sarney, visto como um traidor por ter saído da Arena – da qual chegou a ser presidente – para migrar para o MDB.

 Na véspera da posse, Tancredo foi internado do Hospital de Base e só voltou ao Planalto no caixão, que percorreu várias cidades até chegar ao túmulo, em sua São João del-Rei. Durante esse período, o porta-voz emitiu vários informes otimistas. Foi produzida uma foto com a equipe médica, liderada pelo professor doutor Henrique Walter Pinotti, para tranquilizar o país, mas não surtiu efeito. Ao contrário, criou-se a sensação de não haver volta.

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  Passados 40 anos, o país vive um período de teste de sua democracia, após tentativa de golpe e invasão da Praça dos Três Poderes. Ao contrário dos palanques, as redes sociais se tornaram o caminho comum das acirradas discussões.

  O legado de Tancredo, porém, permanece. A democracia, mesmo com os naturais solavancos, se mantém, e as instituições estão sólidas. O sacrifício, pois, não foi em vão.

  Mas há muito a conquistar. Quando articulava a sua candidatura, mesmo no Colégio Eleitoral, no qual venceu o paulista Paulo Maluf por 480 votos a 180, ele e Ulysses Guimarães sonhavam em fazer um país menos desigual. 

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  A ascensão do poder civil começou antes, paradoxalmente, com a derrota da Emenda Dante Oliveira, que previa eleição direta para a Presidência da República. Rejeitada pelo Congresso – ainda com maioria governista -, tornou-se a bandeira da oposição na campanha pelas Diretas Já. A mobilização reforçou a tese da mudança, embora esta tenha vindo pela eleição indireta.

  José Sarney, hoje com 94 anos (completa 95 no dia 25 de abril), fez um mandato de cinco anos marcado por sérias dificuldades na economia, mas com avanços substanciais na política, pois foi nesse período que o Congresso instalou a Assembleia Nacional Constituinte e promulgou a Constituição de 1988. O ex-presidente estaria, nesta segunda-feira, em São João del-Rei para participar das homenagens ao político que o convidou para ser seu parceiro, do qual virou sucessor, mas, ao contrair Covid, ele cancelou a viagem.

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