O Senado promulgou na quinta-feira a emenda constitucional que cria a “janela partidária”, liberando o troca-troca de partido sem perda de mandato por 30 dias. O prazo passou a ser contado a partir de ontem e vale até o dia 19 de março. Ante tal liberalidade, a formação partidária nas instâncias legislativas vai mudar não apenas pela insatisfação dos políticos com suas atuais legendas mas também por interesses imediatos, muitos deles já voltados para as eleições de outubro. A emenda, no fundo, foi uma válvula de escape criada pelos próprios parlamentares que soa como um contrassenso, uma vez que oficializa a infidelidade e golpeia o viés ideológico, que deveria permear as relações com os partidos, algo, aliás, que se tornou raro até mesmo naquelas que tinham essa premissa como referência.
A dança partidária não surpreende, sobretudo pelo modo como ela será operada. Muitos políticos vão mudar de sigla, mas não perderão o espaço nos partidos anteriores, ampliando, sim, o loteamento que se acentua em períodos eleitorais. O controle que algumas lideranças têm sobre diretórios e comissões provisórias é uma forma moderna dos currais eleitorais. Hoje, há personagens que são “donos de quase uma dezena de legendas”, muitas delas desconhecidas e que só aparecem em períodos de campanha, prontas para acolherem candidatos e se transformarem em moeda de troca na hora de formação dos quadros suplementares do Executivo.
O mesmo Congresso que abriu a janela não teve a preocupação de estabelecer regras para impedir essa sopa de letras que pouco afeta o eleitor, pois este vota mais na pessoa do que no partido, mas que é útil nas transações de bastidores. Cláusula de barreira e impedimento de coligações, que poderiam servir de antídoto para essa mazela, foram rejeitados, uma vez que, direta ou indiretamente, todos se beneficiam nesse processo, não vendo razão para tirá-lo de cena. Quem perde é a política como instituição, pois, em vez de ser uma via de transformação, tornou-se um balcão.